São Paulo, terça-feira, 22 de novembro de 1994
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Real aumenta consumo de bens culturais

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado cultural está aquecido. O boom ultrapassa os 100%. A causa do fenômeno é atribuída ao Plano Real e acabou reproduzindo uma euforia que a indústria cultural não vivenciava desde o Plano Cruzado, no governo Sarney.
"Estou no ramo há mais de 30 anos e nunca existiu um período tão bom", diz Manuel Camero, presidente da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Disco).
A euforia tem motivo. Desde 1989, o mercado fonográfico estava em recessão. Dados comparativos entre os meses de setembro de 1993 e 1994 atestam a recuperação. O número de LPs vendidos aumentou 113%, o de fitas cassetes, cresceu 149%, e a venda de CDs saltou 164%. "O plano favorece o consumo", avalia Camero.
No mercado editorial, a Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte, fez uma pesquisa por amostragem que constatou o crescimento do setor de obras gerais (tudo aquilo que não é religioso, técnico, ou didático). É uma comparação entre os terceiros trimestres de 93 e 94."O faturamento cresceu 206% e a vendagem aumentou 178%", afirma a pesquisadora Marta Oliveira.
A indústria cinematográfica vive uma euforia semelhante. A média de público ficou estável desde 89. "Depois do Real, a partir de julho, o crescimento da receita oscilou entre 20% e 21%. E o de público entre 10% e 11%", estima Jorge Pellegrino, presidente do Sindicato de Distribuidores.
A estimativa de público no ano passado foi de 70 milhões. E a expectativa para 94 é de 80 milhões. "Igual ao mercado francês. A diferença é que lá o preço do ingresso é maior", compara.
Apesar do crescimento, contudo, o Brasil ainda está longe dos tempos áureos. Em meados dos anos 70, a média anual chegou a 180 milhões de espectadores.
Sérgio Machado, presidente do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) está entusiasmado. "O plano chegou tarde. Mas salvou a lavoura. As editoras cortaram os custos e mantiveram uma política editorial mínima para manter suas posições. O mercado ficou reduzido a Paulo Coelho e a Lair Ribeiro".
"A expectativa é melhor do que no Cruzado", avalia Machado. Embora ele reconheça que o boom foi maior naquela época. "Tive que imprimir nos EUA", lembra.
A comparação com o Plano Cruzado é recorrente e justificada. Nos dois momentos houve um boom do consumo. Há outras semelhanças. Para Camero, agora, como antes, o mercado de discos se aqueceu rapidamente e a indústria não está conseguindo suprir a demanda.
Por causa da procura, o presidente da União Brasileira de Vídeos, Enrico Rastelli, avisa: "Pode faltar fita no mercado". Em 92 o setor enfrentou recessão, só agora está se recuperando e não se preparou para o boom.
"Para as locadoras, as vendas cresceram cerca de 30% em relação a 93. Para a venda direta ao consumidor o aumento foi de 50%", estima Rastelli.
Camero aponta uma diferença entre o Real e o Cruzado, o consumo está setorizado. "Antes todo mundo comprou. Agora, apenas as classes mais altas consomem", diz sobre o mercado fonográfico.

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