São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
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Marcas líderes crescem com o real

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

As marcas líderes nas vendas de alimentos, produtos de higiene e limpeza voltaram a ganhar mercado com a queda na inflação.
A menor diferença entre o preço de um produto de marca líder e outro, de marca alternativa, explica este crescimento.
"Com a estabilização da economia, os preços ficaram mais alinhados e a diferença entre um produto líder e o concorrente diminuiu", diz Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga, que reúne os pequenos supermercados.
A diferença menor, explica ele, fez com que o consumidor optasse pela marca mais conhecida.
Exemplo: entre um produto líder que custa R$ 1 e o concorrente desconhecido, que sai por R$ 0,80, o comprador fica hoje com o primeiro.
"Diferença de 20% numa economia estabilizada é muito. Mas, como está se falando em centavos, o cliente acha pouco e acaba levando para casa a marca mais conhecida", explica Tanaka.
A Folha constatou na prática o que os supermercadistas afirmam. Na primeira quinzena do real, a diferença entre o preço de um refrigerante líder e de outro alternativo chegava a 98,9%. Hoje é de 27,5%.
O levantamento realizado pela Folha revela também que a diferença entre o preço de cinco produtos líderes escolhidos e das respectivas marcas alternativas hoje é bem menor em relação a julho, logo após a implantação do real.
Segundo Tanaka, a queda nos preços das marcas líderes reflete a avalanche de descontos concedidos pelas grandes indústrias no início do Plano Real.
O aumento da liderança de vendas das marcas nobres também se explica pelo fim da inflação alta que deu mais poder de compra às camadas C e D da população.
Além disso, diz Armando Peralta, vice presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), as marcas líderes estão cada vez mais líderes porque tiveram capacidade de responder mais rapidamente ao aumento da procura.
Avanço da liderança
As empresas fazem sigilo absoluto de quanto elas avançaram na fatia da concorrência. Revelam apenas que aumentaram as vendas depois da troca de moedas.
A Gessy Lever, por exemplo, dona das marcas Omo e Doriana, vai fechar 1994 com crescimento de 8% nas vendas de alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal, sobre o ano anterior.
Parte desse crescimento se deve ao aquecimento da economia. A outra parte, diz Ronald Rodrigues, diretor de assuntos corporativos da Gessy Lever, é resultado do aumento da participação no mercado.
A Quaker Alimentos é outra que ampliou sua fatia no segmento de enlatados de peixe, cereais e leite aromatizado, depois do real.
"As vendas das nossas marcas líderes (aveia Quaker, sardinha Coqueiro e Toddynho) aumentaram de 12% a 13%, entre julho e setembro. Enquanto isso, o mercado dessas categorias de produtos cresceu 10%", diz Marcos Machado, gerente de marketing.
Sem revelar sua participação no mercado de embutidos, a Sadia confirma que ampliou a liderança nas vendas de presunto cozido. Elas aumentaram 10% neste segundo semestre.
Depois do real, o presunto cozido, o embutido mais nobre feito com o pernil traseiro do porco, roubou até mesmo consumidores de produtos similares mais baratos fabricados pela própria empresa, conta Marcos de Oliveira, gerente regional de industrializados.
Resultado: a maior procura por presunto cozido fez o produto sumir das prateleiras de alguns supermercados no mês passado.
"Com mais dinheiro, o consumidor compra os produtos que sempre desejou", diz Oliveira.

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