São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
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Os novos pioneiros - 6

LUÍS NASSIF

Se o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso efetivamente quiser repetir o estilo JK, o caminho está traçado.
Com sua intuição, JK entendeu que, no seu tempo, o desenvolvimento passava, primeiro, pela atração de empresas estrangeiras. Depois, pelo uso eloquente do discurso, a fim de estimular grupos brasileiros a investirem nos novos setores. Na época, não havia empresa brasileira que não tivesse seu próprio plano de metas.
FHC pode ter na indústria de software seu mote de partida.
O primeiro passo consiste em transformar em bandeira nacional a produção de software. Historicamente, sem estímulo algum, utilizando a música como instrumento para escapar do anonimato, milhares de compositores produziram a mais rica música popular do planeta.
Esse enorme potencial de criatividade jamais se materializou em ganhos econômicos para o país (e para os compositores) pela falta de uma estrutura empresarial moderna e com visão internacional.
Agora pode-se repetir a enorme saga do compositor popular, envolvendo milhares de produtores de software em torno do objetivo comum de conquistar o mercado internacional, permitindo ao país pegar o bonde na área de crescimento da economia mundial onde possui maiores vantagens comparativas.
Capital de risco
O segundo passo é ampliar o trabalho de mapeamento e coordenação da Softex 2000. Atualmente esse programa federal coordena 20 centros regionais, integrando desenvolvedores e garantindo o repasse de financiamentos federais. Ao mesmo tempo, montou escritório em Pembroke Pines, na Flórida, incumbido, numa ponta, de atuar na prospecção de novos mercados para os produtos brasileiros. Na outra, de funcionar como uma espécie de incumbadora de empresas.
É pouco. Falta a esses criadores estrutura de capital mas, principalmente, estrutura de marketing e formas de acesso aos grandes distribuidores nacionais.
O papel de governo não deve ser de apoio paternalista a esses desenvolvedores, mas de estimular os investidores privados a entrarem decididamente nessa área.
O modelo ideal de participação seria a constituição de empresas de capital de risco que, internamente, selecionassem produtos promissores e não só injetassem capital nos desenvolvedores, mas tratassem de prepará-los administrativamente para se transformarem em futuras sociedades anônimas.
Externamente, caberia a esses investidores criar um selo nacional e preparar estratégias de penetração no mercado norte-americano, contatando distribuidores, avalizando os produtos internos, consolidando uma marca nacional, encontrando maneiras de ter acesso às publicações especializadas e ao mercado corporativo.
Com critério técnico e capital, é pule de dez.

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