São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
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Justiça rápida

SÍLVIO LANCELLOTTI

No último domingo, uma batalha tenebrosa antepôs, em Brescia, norte da Itália, os torcedores da Roma visitante e a polícia da cidade. Principiou, absurdamente, no pátio da estação ferroviária local. Sobraram, inclusive, várias facadas para Giovanni Selmin, 49 anos, o vice-chefe das forças da lei de Brescia, encarregado da segurança da peleja.
O incidente, gravíssimo, aconteceu quando Selmin e as suas tropas se mobilizavam, doce ironia, para proteger os torcedores da Roma, recém-desembarcados de um trem. Consta que os torcedores da Roma nem se preocuparam em identificar aqueles que por eles esperavam, plantados na gare. Desceram do trem –e atacaram. Houve ainda uma sucessão de conflitos no caminho do estádio Mário Rigamonti. Ocorreram mais brigas dentro do estádio, 32 feridos graves, 12 torcedores, 21 da polícia.
De tal vez, no entanto, o mundo não se curvou, entre aspas, com a suave ironia de plantão, o mundo não se curvou aos pés do Brasil. Em menos de 24 horas os líderes da confusão estavam identificados. Em menos de 48, igualmente, se sabiam os nomes e os endereços dos seus cúmplices principais. Em menos de 72, um tribunal civil, e radicalmente rápido, tinha condenado três dos criminosos à prisão.
Penas irreversíveis, por enquanto, na dependência de outras acusações cumulativas: entre um e três anos de reclusão, sem o direito tolerante ao sursis.
E a Justiça italiana não se angustiou na discussão das punições. Um dos imputados, Daniele Betti, 18 de idade, até que ostentava, digamos, um batalhão de atenuantes. Era ex-craque dos juvenis da Roma. Na temporada de 93/94, em ao menos um cotejo, diante do Padova, na Copa da Bota, Betti se sentara no banco de reservas, imediato substituto do grande capitão Giuseppe Giannini. Mais, perdera o seu lugar no clube na exata data em que seu pai, envolvido com drogas, desabava na cadeia.
E daí?, raciocinou a Justiça da Itália. Todos sentimos dó terrível de Betti e dos seus azares pessoais e dos seus infortúnios familiares. O lugar de Betti, no entanto, é na "galera", atrás das grades. E como a Justiça da Itália capturou o moço Betti? Em flagrante, no evento das punhaladas ou na guerrilha das arquibancadas? Não. Betti acabou engaiolado porque, integrante de um dos grupos formais de torcedores da sua Roma, estava fichado, nome completo, fotografia, endereço residencial.
Repito: Apenas se diminui, no momento, o diabo da violência das torcidas no Brasil, se houver a identificação prévia e formal de todos os membros das torcidas organizadas de São Paulo e do Rio. Apenas –e obviamente.

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