São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marva Right canta somente hoje em BH

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Parece incrível que um ano tão cheio de eventos culturais –como foi 1994– ainda reserve grandes surpresas no seu final.
Para quem já se considerava satisfeito da vida com o calendário quando acabou o Free Jazz, alguns nomes ainda restam no cardápio para provocar a gula musical.
Hoje tem a última noite de Betty Carter no "presidencial" Bourbon Street. Daqui a pouco chega Jessye Norman, para dois recitais no Cultura Artística.
São Paulo não cabe em si. Não é qualquer cidade do Primeiro Mundo que pode se dar ao luxo de ter Carter e Norman em um intervalo tão curto de tempo.
Este ano, ainda passaram por aqui "só" musas como Barbara Hendricks, Abbey Lincoln, Cassandra Wilson e Etta James.
Para quem -como eu- acredita que o mundo seria melhor governado pelas divas (que são anagrama de vida) do que pelos políticos, nada, mas nada mesmo, mal.
Mas, em meio a tantas vozes, uma boa cantora americana passou "batida" pelos paulistanos (assim como o genial Little Jimmy Scott foi desconsiderado por aqui).
Ela chama-se Marva Right, vem de Nova Orleans e cantou na semana passada no Bourbon Street. A vez é dos mineiros: ela estará só hoje em Belo Horizonte.
Não há dúvida de que o nome de Marva crescerá cada vez mais fora das reservas das tribos que frequentam aquela foz musical do rio chamado Mississipi.
As reinterpretações da bonachona Marva Right são surpreendentes pela qualidade e pela originalidade. Ela começa com o standard dos standards: "All of Me".
Quem acredita que poderá ainda haver uma leitura diferente e boa do ícone "All of Me"?
Acredite, Marva faz. Inteligentemente, ela trava a docilidade e dá um acento mais duro, mais blueseiro, para esta canção já definitiva na voz de muitos outros.
O mesmo vale para a elegia a sua terra, a leitura de "Do You Know What it Means To Miss New Orleans" –lida e relida, de Armstrong a Harry Connick, Jr.
A força viva de Marva permanece ainda no repertório considerado como menos "culto", em hits malhados como "Proud Mary" e "Stand by Me".
Para quem gosta do balançante e reiterativo espírito do blues, OK, Marva lhe dará. Para quem já se contentou com as suas releituras, valeu mais do que a pena.
Este, talvez, seja o grande mérito de uma casa especializada como o Bourbon Street: apresentar ao ouvinte brasileiro os talentos emergentes da terra do blues.
A alternativa custa um pouco mais caro para o público: caçar, por conta própria, as estrelas emergentes. Pagando a passagem e a estadia em Nova Orleans.
Que venham mais divas.

Show: Marva Right
Onde: Bar Nacional (av. do Contorno, 10.076, tel. 031/295-2525)
Quando: hoje, às 23h
Quanto: R$ 15,00

Texto Anterior: O CANTINHO DA MADONNA
Próximo Texto: Associação resgata filmes raros em 16 mm
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.