São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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Indústria engatilha alta de preços

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

As indústrias estão prontas para aumentar preços. Alegam que não dá mais para absorver os reajustes das matérias-primas, das embalagens, do frete e dos dissídios de novembro e dezembro.
A Perdigão, por exemplo, decidiu aumentar entre 4% e 5% os preços de alguns dos seus produtos num prazo de 20 dias.
Eggon João da Silva, presidente da Perdigão, diz que de julho até agora alguns produtos já foram reajustados –entre 5% e 10%. Vão haver novos aumentos, diz ele, por causa das novas pressões de custos.
A Cargill, que detém as marcas Liza, Claris e Veleiro de óleos vegetais, planeja aumentar preços a partir de janeiro.
"A indústria está num beco sem saída por causa dos aumentos de custos", diz Sérgio Barroso, vice-presidente da divisão de óleos vegetais da Cargill.
Segundo ele, a empresa trabalha hoje com prejuízo de 10% sobre as vendas. Está operando no vermelho porque já tinha pedidos em carteira por um preço fechado antes dos aumentos de custos.
A Quaker Alimentos também diz que está no limite para suportar aumentos de custos.
Se as embalagens continuarem pressionando, a empresa vai aumentar os preços a partir de janeiro, diz Marcos Machado, gerente.
Segundo as indústrias, os fretes e as embalagens são os itens que mais têm pressionado os custos.
Silva, da Perdigão, diz que de julho até agora as embalagens subiram de 5% a 10%; os suínos, 53% e os bovinos, de 50% a 60%.
A mão-de-obra e o frete, diz, estão mais caros: aumentaram entre 10% e 15%, no período.
A empresa, diz ele, está tentando negociar com os fornecedores.
A diretoria da Ceval, outra fabricante de derivados de carnes, ainda não marcou data para aumentar preços, mas vê com preocupação os reajustes feitos e os que estão por vir.
Por conta dos aumentos de preços das matérias-primas do real até agora –de 25% a 30%–, a Ceval já aumentou –entre 25% e 30%– os preços dos seus derivados de carnes, no período.
"A carne não deve pressionar mais. O que nos preocupa agora são as embalagens. Tem fornecedor querendo aumentar 60% os preços para dezembro", diz Sérgio Waldrich, diretor.
Segundo ele, parte dos empregados tem dissídio em dezembro. Isso representa uma pressão adicional nos custos.
Waldrich diz que do real até agora o preço do saco de 60 quilos do milho aumentou 45% –de R$ 6,25 para R$ 9,00. Os condimentos, afirma, subiram 27%. O frete, 25%. As embalagens, 33%.
A Wander, fabricante do Ovomaltine, também reclama dos aumentos das principais matérias-primas.
Alexandre Caldine, gerente de marketing, diz que nos últimos dois meses os preços do cacau, da glucose e do açúcar subiram 10%; dos sacos plásticos, 20%; das latas, entre 8% e 9%; da caixa de papelão, entre 15% e 36% e do óleo de coco, 35%.
"Ainda não repassamos estes aumentos para os preços." Segundo ele, a empresa, em muitos casos, não tem como fugir de um fornecedor.
Aumento já
Já há indústria aumentando os preços neste mês. É o caso de um grande fabricante de utensílios domésticos de plástico. Em alguns itens, o aumento superou 100%; na média foi de 85% sobre a tabela de março convertida para a URV.
A empresa, que não quis ser identificada, alega que está apenas se defendendo dos aumentos de matéria-prima.
Entre setembro e outubro, o dióxido de titânio, por exemplo, uma resina usada na produção do plástico subiu 150% e as caixas de papelão tiveram alta de 120%, segundo a empresa.

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