São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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Livro cotam um dia no mundo

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Livro traz 240 relatos sobre o mesmo dia
A revista francesa 'Le Nouvel Observateur' lança edição especial com participação de escritores de 73 países
Em 1934, o escritor russo Maxim Gorki (1868–1936) teve uma idéia: reunir textos de escritores do mundo inteiro descrevendo o mesmo dia. Sessenta anos depois, a revista francesa "Le Nouvel Observateur" retomou a idéia.
Para comemorar seus 30 anos, a revista reuniu textos de 240 escritores de 73 nacionalidades sobre o dia 29 de abril de 1994 –entre os quais os brasileiros Jorge Amado, Autran Dourado e Moacyr Scliar. O livro foi lançado anteontem.
Gorki realizara parcialmente sua idéia –em 1936, após a morte do escritor, saiu um livro com 30 depoimentos sobre 27 de setembro de 1935. Esse livro, no entanto, não é mais encontrado.
A lista de 240 nomes vai da Patagônia à Groenlândia, da Austrália ao Canadá. (veja no final do texto uma lista parcial).
Recusa
A data foi escolhida ao acaso. A relação de escritores, arbitrária (a revista o reconhece), excluiu ensaístas, filósofos e sociólogos. Apenas escritores "puros".
O livro começa pela Austrália (Frank Moorhouse) e segue pela ordem de fuso horário até Vancouver (Canadá), com o marroquino Driss Chraibi.
Entre os que recusaram o convite, alegando falta de tempo, estão o Prêmio Nobel de Literatura deste ano, o japonês Kenzaburo Oê, e o norte-americano Joseph Brodsky.
O tamanho dos textos era livre. Nenhum dos escritores foi remunerado. Como retribuição, receberam da revista uma litografia representando Gorki com uma página do "Nouvel Observateur" ao fundo.
Parte dos escritores decidiu homenagear Gorki em seus textos. Foi o caso de Autran Dourado, que discorreu sobre o fim da palavra escrita.
Amado
A maioria se ateve ao tema original e descreveu seu dia, como Jorge Amado. No seu texto, enquanto escreve um artigo sobre Dorival Caymmi para a Folha, o escritor pensa em um amigo que vai ter um tumor extirpado.
Moacyr Scliar usa Porto Alegre como pano de fundo para uma reflexão sobre a crise brasileira: "Fortemente ligado a seu passado, o Brasil continua a olhar para o futuro. É o dilema desse país."
Os editores da revista fizeram questão de convidar escritores perseguidos, como o britânico Salman Rushdie e a bengalesa Taslima Nasreen.
O livro contém os depoimentos de oito ganhadores do Nobel de Literatura. Outros ainda hão de vir. Mas o dia 29 de abril de 1994 já entrou para a história da literatura.

Alguns nomes da lista, por ordem alfabética do sobrenome: Fernando Arrabal, Julian Barnes, Guillermo Cabrera Infante, Camilo José Cela, Patrick Chamoiseau, Marguerite Duras, Umberto Eco, Carlos Fuentes, Eduardo Galeano, Gabriel García Márquez, Nadine Gordimer, Gunter Grass, Peter Handke, Vaclav Havel, Patricia Highsmith, John Irving, Ismail Kadaré, Stephen King, Milan Kundera, John Le Carré, JMG Le Clézio, Robert Ludlum, Naguib Mahfouz, Norman Mailer, Taslima Nasrin, Octavio Paz, Salman Rushdie, Ernesto Sábato, Françoise Sagan, Robert Schneider, Claude Simon, Jorge Semprún, Susan Sontag, Wole Soyinka, Mario Vargas Llosa e Gore Vidal.
"240 Écrivains Racontent une Journée du Monde" (240 escritores contam um dia do mundo). Edição especial do "Le Nouvel Observateur", 282 páginas, 95 francos. Nas bancas francesas. Em São Paulo, o livro pode ser encomendado na Livraria Francesa (r. Barão de Itapetininga, 275, tel. 011/231-455)

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