São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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Undécima hora

A deterioração das finanças do Estado de São Paulo impõe que se faça um ajuste rigoroso. A magnitude do desequilíbrio é tal que dificilmente se poderá superá-lo sem ajustes patrimoniais, sem privatizações. A poucos dias do final do mandato do atual governador, porém, a venda de um terço das ações da Eletropaulo é questionável.
Durante os quatro anos da administração Fleury pouco se fez no sentido de retirar o Estado de funções empresariais que podem ser realizadas com maior eficiência e menor custo pelo setor privado. Assim, a venda de vultosa quantidade de ações da Eletropaulo constitui um iniciativa isolada; não faz parte de um plano geral de governo ou de um programa que se conclui.
Seria de esperar que para tomar tal medida houvesse a concordância do futuro governador, recém-ungido pelas urnas e sobre cuja administração recairão, afinal, as consequências desses atos finais. Mas não é esse o caso. Às vésperas da troca de governo, a administração que finda pretende vender um patrimônio estimado em R$ 2 bilhões à revelia dos que governarão o Estado nos próximos anos.
À falta de coordenação entre o mandatário que se retira e o que assume, somam-se as dúvidas quanto aos motivos e condições da venda. Há alguns meses empreiteiras vêm pressionando para receber os débitos existentes antes da posse do novo governo. Mário Covas, o governador eleito, diz que pretende fazer uma auditoria dessa dívida. Se, de fato, uma venda de valor tão elevado servir para atender em regime de urgência a uma demanda de empreiteiras cujas razões estão pouco claras, o interesse público pode não estar assegurado.
O programa de privatizações é, hoje, uma imposição às economias que almejam a modernizar-se. O Brasil tem ainda um longo caminho a percorrer nesse sentido. Ademais, desse processo depende, em grande parte, a estabilização duradoura da economia. É preciso privatizar. Mas sempre com transparência.

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