São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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A manga e os nichos

CLÓVIS ROSSI

BRUXELAS – Para 99,9% dos mortais comuns, manga (a fruta) é manga e ponto final. Mas, para a fatia dos paquistaneses que cultivam sua religião, só há um determinado tipo de manga que é própria para consumo.
O autor dessa insólita e aparentemente inútil descoberta não é um especialista em frutas tropicais, mas o embaixador brasileiro em Londres, Rubens Barbosa. O caso das mangas de um tipo específico serve para que o embaixador defenda o seu ponto: os empresários brasileiros deveriam, crescentemente, procurar nichos de mercado para colocar sua produção na Europa.
As mangas para os paquistaneses não é um nicho tão desprezível como parece. Primeiro, porque se trata de uma comunidade de porte mais do que razoável. Segundo, porque o Chile já exporta, de frutas, algo em torno de US$ 1,4 bilhão anual, ao passo que o Brasil, de natureza mais pródiga nessa matéria, não vai além de US$ 300 milhões ou umas quatro vezes menos.
A tese dos nichos, defendida pelo embaixador Rubens Barbosa, serve também para ilustrar a outra ponta da discussão em torno da abertura da economia brasileira. Os empresários queixam-se, com alguma razão, de que a competição com a produção externa pode ser desigual dado que o custo do dinheiro, no Brasil, chega a ser cinco vezes maior do que no mundo desenvolvido e a infra-estrutura brasileira é bem mais precária.
Ora, o mercado europeu oferece a chance para que o empresariado brasileiro mostre sua capacidade de competição. Por ora, os vendedores brasileiros praticamente não precisam sair de casa, uma vez que 70% das compras européias nos países do Mercosul são de bens primários (especialmente produtos agrícolas e minerais).
Ora, esse tipo de produção se vende praticamente sozinha. Já nichos especializados, sejam ou não de bens primários, precisam ser procurados e cultivados. É um bom momento para fazê-lo agora, já que a Europa toda voltou a crescer e o seu núcleo principal (a União Européia) se dispõe a negociar uma zona de livre comércio com os países do Mercosul.

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