São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
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Elvis não morreu

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Palavra de rei não volta atrás. A de presidente volta. Rei não precisa de popularidade. Presidente precisa. Daí a confusão que Itamar armou com os petroleiros, garantindo um acordo que não podia honrar.
Criticar a debilidade de Itamar Franco não significa justificar a pretensão dos grevistas. Sempre é bom citar aquele princípio escolástico: "Afirmatio unius non est negatio alterius". Afirmar uma coisa não significa negar outra. No caso do acordo que provocou a greve dos petroleiros, os dois lados não têm razão.
Bem ou mal, mais cedo ou mais tarde se chegará a uma solução no setor do petróleo. Mas assim como o gigante mostra o dedo, o anão faz o mesmo. E vimos o dedo do anão que, entre outras coisas, fez o Plano Real para garantir de um lado a eleição de Fernando Henrique Cardoso e, de outro, a popularidade de Itamar.
Anteontem, vi pela TV a primeira reunião (ou o que quer que seja) do novo governo. FHC estabeleceu um critério saudável: só falará com quem tiver representatividade, ou seja, presidentes e líderes partidários.
Até aí, tudo bem. Acontece que vi a chegada dos presidentes e líderes que garantiram a vitória do atual presidente. Parecia uma daquelas reuniões dos tempos de Geisel e Figueiredo. A única diferença é que, lá dentro, aguardando os notáveis da pátria, não estava nenhum general.
Aparentemente, o Conselho Político dos novos tempos se reuniu para articular a reforma da Constituição, em 1995. Acredite quem quiser ou tiver interesse pessoal na jogada.
Uns 35 mil cargos dos diversos escalões entraram em leilão e os notáveis da pátria conhecem as regras do jogo. São profissionais veteranos e catimbados, já fizeram há muito a opção pelos 30 milhões de brasileiros que formam a banda não-podre do país: os beneficiários do milagre brasileiro dos anos 70.
A partir de janeiro, através de acordos feitos com a mesma firmeza de Itamar, veremos que o milagre brasileiro, tal como Elvis Presley, não morreu.

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