São Paulo, sábado, 26 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tribunal de (faz) de Contas da União

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Não há pior criminoso do que o ponteiro do relógio. Primeiro, ele nos assalta. Rouba-nos um instante a cada tique-taque. Depois, impiedoso, nos mata.
Eis uma verdade sólida, inquebrantável: o tempo é o único algoz do qual não conseguimos escapar.
Assim, pode-se dizer que aquele que mata o tempo está, na verdade, cometendo suicídio. Está atentando contra a utilidade da própria existência.
É este, precisamente, o caso dos ministros do Tribunal de Contas da União, uma espécie de santuário do desperdício de tempo.
Na última quinta-feira, o TCU decidiu rejeitar as contas da Petrobrás. Muito bom. Diria mesmo ótimo. Cabe ao tribunal fiscalizar o Executivo e seus arredores.
O que espanta no episódio é que as contas rejeitadas são de 87 e de 88. Note bem, a voz do TCU soou com pelo menos seis anos de atraso.
O relator do caso era o ministro Homero Santos. Ele encasquetou com a Petrobrás por causa do compulsório dos combustíveis, criado no governo Sarney.
Parte do dinheiro do compulsório deveria ter sido repassado ao Tesouro Nacional. Seria aplicado no Fundo Nacional de Desenvolvimento.
Mas a Petrobrás embolsou o dinheiro. E Homero Santos, com imperdoável atraso, se abespinhou. Determinou à Petrobrás o imediato (!) recolhimento ao Tesouro das parcelas sonegadas, algo em torno de R$ 200 milhões.
Decidiu ainda multar em R$ 1.400 os dirigentes da estatal à época da falta. Exige que a multa seja paga em escassos 15 dias (!).
Os envolvidos decerto recorrerão ao Judiciário. E ao atraso de Homero devem somar-se novos cinco ou seis anos.
O curioso em toda a história é que Homero Santos, nosso sossegado ministro, já teve os seus dias de ligeireza.
Ex-deputado, Santos integrava o grupo de pianistas da Câmara –aqueles que, mãos lépidas, apertavam vários botões ao mesmo tempo, votando por si e pelos colegas faltosos. O tempo subtraiu-lhe a agilidade.

Texto Anterior: As aspirações do povo
Próximo Texto: Elvis não morreu
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.