São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Falta de estrutura joga ação militar para 95
FERNANDO RODRIGUES
A Operação Rio existe por causa de um convênio firmado em 31 de outubro entre os governos federal e carioca. Pelo acordo, o Exército coordenará, até 30 de dezembro, as ações de combate ao tráfico de drogas e ao contrabando e posse ilegal de armas no Rio. A idéia era fazer uma grande coalizão de forças, sob o comando do Exército. Isso tem sido praticamente impossível. Há dois tipos de dificuldades. Uma se refere unicamente à falta de estrutura das forças integradas na ação. O outro problema é a incapacidade do Exército de homogeneizar as ações. Falta de estrutura Participam da Operação Rio, entre outras, as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica); as polícias estaduais (militar e civil), a Polícia Federal e a Rodoviária Federal. Além disso, o Exército tem solicitado ajuda de todos os órgãos que tenham algo a contribuir na caça de criminosos ligados ao tráfico de drogas no Rio. Um desses organismos é a Receita Federal. Logo depois de firmado o acordo, a Receita foi chamada ao CML. O general Roberto Jugurtha Câmara Senna, comandante da Operação Rio, pediu ajuda na identificação de traficantes. Ouviu um relato melancólico de um funcionário da Receita. Cerca de 150 fiscais são responsáveis pelo trabalho no aeroporto internacional do Galeão. Apenas cem fiscais são encarregados de trabalhar na vistoria de todos os atracadouros do porto do Rio. Como as importações têm sido recordes, esses fiscais quase não têm tempo de se dedicar a outras atividades que não sejam relacionadas a inspecionar mercadorias legalmente trazidas ao país. As polícias federal, militar e civil reclamaram não ter equipamentos adequados para combater traficantes nos morros. Até agora, apenas a Polícia Militar recebeu armas emprestadas do Exército. Falta de comunicação Os militares também não conseguiram aprimorar a comunicação interna entre as forças integradas na Operação Rio. Isso ocorre por causa do sigilo necessário à operação, que impede a divulgação ampla das diretrizes. E, também, por causa da inabilidade do Exército em tentar aglutinar forças antagônicas. As polícias Militar e Civil, no Rio, não têm um histórico de cooperação no combate à criminalidade. Pior do que isso, sentiram-se ambas ofendidas pelo fato de as Forças Armadas terem sido chamadas para atuar no Estado. A comunicação sobre as ações em um determinado morro não é feita a todas as forças envolvidas. As polícias estaduais sentem-se excluídas do processo. Policiais militares e civis acreditam que o Exército será o maior beneficiário no caso de um sucesso da Operação Rio. E não elas. Quando ocorre uma ação de ocupação, como no caso do morro do Borel, na sexta-feira, a informação chega na última hora para os policiais requisitados. O maior reflexo negativo dessa falta de afinamento é a pobreza de informações estratégicas sobre o paradeiro de traficantes. Embora o Exército diga que isso não seja uma prioridade, há interesse em prender algum grande traficante. Os militares sentem pouca disposição por parte das polícias Militar e Civil na identificação de chefes de quadrilha. Câmara Senna costuma reclamar da precariedade do seu serviço de informações. O Exército já decidiu formar uma estrutura própria de informações sobre o crime no Rio. Já batizado de centro de inteligência, essa estrutura será o maior banco de dados existente no país sobre as atividades do narcotráfico. Mas é impossível obter resultados efetivos antes de meados de 95. Texto Anterior: Detentos escapam de cadeia em Santo André Próximo Texto: Fim-de-semana concentra ação Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |