São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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A simetria faz a diferença

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Simetria, para muitos, é sinônimo de beleza. O motivo pode estar atrás dos olhos, sugerem dois estudos com computadores publicados este mês na revista Nature.
"Fêmeas de várias espécies têm preferência por machos simétricos", disse à Folha o zoólogo Rufus Johnstone, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), autor de um dos estudos.
Entre as espécies estão andorinhas, tentilhões e certas centopéias. Há até estudos que já verificaram que homens com rostos mais simétricos parecem ser mais atraentes às mulheres.
Para Johnstone, a preferência pela simetria é um fenômeno que independe das características de percepção das espécies.
Foi por isso que ele usou computadores. Através das máquinas, tentou simular o modo como diferentes cérebros reagem às imagens que os olhos vêem.
Quando uma mulher vê um homem, ou quando uma andorinha-fêmea vê um macho, a retina do olho transmite sinais ao cérebro através do chamado nervo óptico.
Depois de passar pelo nervo óptico, a imagem é "processada" no cérebro. É nele que surge um sinal de estímulo sexual ou indiferença.
Machos de caudas longas com desenhos simétricos costumam gerar estímulos mais intensos no cérebro das andorinhas-fêmeas.
Johnstone fez simulações do olhar das andorinhas usando no computador modelos bastante simples do cérebro, conhecidos como redes neurais (veja texto abaixo).
"Fiz várias simulações, gerei vários sistemas diferentes de reconhecimento, e todos eles manifestaram a mesma preferência por simetria", afirma o zoólogo.
O outro estudo publicado na Nature também usa redes neurais como modelos. Os dois estudos são unânimes ao negar que a preferência pela simetria tenha surgido porque parceiros simétricos teriam melhores genes.
"Ambos os trabalhos tendem a reforçar a mensagem comum de que a preferência pela simetria deve ser subproduto da percepção visual", disse à Folha Anthony Arak, da Archway Engineering, co-autor do outro estudo.
Vistos de perspectivas diferentes, objetos simétricos geram os mesmos sinais nas redes neurais. Como esses sinais são mais intensos, os objetos simétricos são reconhecidos com maior facilidade.
Segundo Arak, essa necessidade de ver as coisas em diferentes posições pode ter gerado a preferência estética pelo mais fácil de reconhecer: o simétrico.

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