São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
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A Amazônia dos faraós

Reconstruir os longos trechos recobertos pela floresta e concluir a construção da rodovia Transamazônica, além de fazer mais três obras rodoviárias no Pará, é um compromisso polêmico do presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso.
Iniciada em 1970, período em que o Brasil vivia o assim chamado milagre econômico e no qual o regime militar procurava legitimar-se através de grandes investimentos, a Transamazônica ficou conhecida como símbolo das "obras faraônicas". Tratava-se, então, de um projeto desproporcionalmente caro, de motivação política e pouca utilidade. Hoje, passados 24 anos, convém reavaliá-lo com serenidade.
O Brasil carece de estradas não só no Norte, mas em muitas outras regiões. E não faltam apenas rodovias, mas também portos, ferrovias, eletrificação, saneamento básico etc. O país necessita de quase tudo. Por isso, o mérito de uma obra só pode ser estimado em relação ao conjunto de iniciativas do governo e à luz dos limites orçamentários. Estes são justamente os pontos fracos da proposta de retomada do projeto transamazônico.
Não está claro se as rodovias em questão são suficientemente prioritárias para receber recursos da ordem de US$ 2 bilhões em um país deficiente em incontáveis aspectos sociais e de infra-estrutura. Sem uma programação geral e consistente, obras mais urgentes podem ser preteridas. Ademais, o equilíbrio das contas públicas é uma condição imprescindível à estabilização da economia e, portanto, os gastos governamentais devem estar sob rígido controle.
O programa do presidente eleito estima em R$ 100 bilhões os gastos com infra-estrutura nos quatro anos de governo. Apenas R$ 20 bilhões, porém, são de fontes orçamentárias. Os demais recursos dependem de financiamentos externos, privatizações, entrada de divisas e participação do setor privado. São, portanto, mais incertos.
Para comprometer nas obras transamazônicas o equivalente a 10% de todo o orçamento de infra-estrutura o governo teria de demonstrar, com um plano geral, sua conveniência e legitimidade. O tempo dos faraós terminou.

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