São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
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A Cúpula das Américas

A Cúpula de Miami, convocada para reunir todos os chefes de governo das Américas, exceto Cuba, parece fadada a converter-se numa simples "photo opportunity". A principal reclamação diz respeito à agenda: não seriam ali tratados temas importantes, os de ordem econômica são secundários e o assunto Cuba teria bloqueio do Norte.
Entretanto, até mesmo as "photo opportunities" podem ter impacto estratégico, dada a importância do simbólico na política. E a agenda, por mais que desagrade a gregos e troianos, pode ser alterada quando há governantes com espírito de iniciativa e disposição à mudança.
Há que lembrar ainda que a Cúpula pode oferecer oportunidades para contatos pessoais do presidente eleito com vários chefes de governo. Noticia-se já a possibilidade de um encontro paralelo de Fernando Henrique Cardoso com o presidente Bill Clinton. A ressalva é que, por interessantes que possam ser, tais encontros paralelos tomam carona na Cúpula sem afetar em nada a sua agenda nem torná-la mais útil para os participantes.
FHC já deu sinais de que pretende escolher um diplomata para o posto de porta-voz da Presidência, um nome do Itamaraty com capacidade própria de elaboração. O presidente eleito já foi chanceler. Está familiarizado com os temas da geopolítica brasileira. Espera-se que no seu mandato os assuntos internacionais tenham grande evidência. É portanto no mínimo desapontador que a ida a Miami de Fernando Henrique Cardoso e de Itamar Franco não esteja associada a nenhuma iniciativa concreta no sentido de revalorizar o evento.
A Cúpula das Américas é mais um capítulo na novela dos "regionalismos abertos" contemporâneos. Assim como começa a fazer com relação à União Européia, o Mercosul pode abrir uma frente de contato com o Nafta (que reúne EUA, Canadá e México). Isso é não apenas viável logisticamente como desejável economicamente. O processo de integração regional é aberto justamente por ser um movimento de negociações policêntricas, não uma fila para "entrar", por exemplo, no mercado norte-americano.
A ida a Miami, para ser produtiva, não poderia ser despretensiosa. Caberia ao presidente eleito assumir com vigor e destaque a Cúpula das Américas.

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