São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 1994
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Exército pede ajuda à Igreja ;Rio

JOSIAS DE SOUZA; MÁRCIA MARQUES; FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Exército pede ajuda à Igreja
JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
MÁRCIA MARQUES
Em telefonema a d. Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o general Gilberto Serra, porta-voz do Exército, pediu ontem o auxílio da Igreja na fiscalização da Operação Rio.
Serra acha que a Igreja tem "grande penetração" nos movimentos sociais e pode auxiliar o Exército. Ele se colocou à disposição de d. Luciano para servir de "canal". Quer ser acionado sempre que um representante da Igreja julgar que determinada ação do Exército desrespeita a lei.
"Estamos no Rio para resolver um problema. Nossa idéia não é criar um outro problema", disse Serra, que chefia o Ccomsex (Centro de Comunicação Social do Exército.
O telefonema de Serra a d. Luciano ocorre depois da denúncia de que policiais militares e civis e homens do Exército submeteram moradores a supostas sessões de tortura.
O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, determinou a realização de investigação para apurar a procedência das acusações. A apuração será feita pelo Comando Militar do Leste, a quem está subordinada a ação.
"Se realmente houve o que estão dizendo, isso vai ser verificado", disse Serra. "Não creio que tenha ocorrido, porque isso foge dos princípios princípios pelos quais estamos pautando nossa conduta".
Serra disse que as ações têm sido acompanhadas por um ouvidor e representantes da defensoria pública da União.
Para o general, é possível haver mudanças nos rumos da operação. Alguns oficiais informam que entre as possíveis mudanças estaria a previsão de maior participação dos órgãos de segurança pública (polícias civil e militar) na operação.
Rio
O comando da Operação Rio também teme que as acusações de tortura abalem a credibilidade das Forças Armadas e a da própria operação.
Uma das sugestões que estão sendo analisadas pelo comando é a liberação da presença de jornalistas nas favelas ocupadas. Eles funcionariam como avalistas do comportamento dos envolvidos nas operações. A solução, porém, enfrenta resistências entre os militares.
Oficiais temem que os jornalistas registrem eventuais "excessos na ponta da linha" –expressão que usam para caracterizar violações de direitos cometidas por soldados.
Colaborou FERNANDO MOLICA, da Sucursal do Rio

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