São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 1994
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Padre protesta contra supostas torturas no Borel

SERGIO TORRES; FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

O pároco da igreja São Sebastião –parte alta do morro do Borel–, Olinto Pegoraro, 60, entregou ontem no Comando Militar do Leste e na Arquidiocese do Rio cartas de protesto contra as supostas torturas ocorridas na favela.
"A Operação Rio resultou de um acordo constitucional, democrático. É um início da retomada da ordem social no morro. Mas uma operação legal não pode chegar à tremenda irregularidade que é a tortura."
Pegoraro afirmou estar indignado com as declarações do ministro do Exército, Zenildo de Lucena, que falou à Folha que desconfiava de ligações entre a igreja e os traficantes.
"Desenvolvemos um trabalho sem qualquer vinculação com banditismo", disse.
Gaúcho, o padre veio para o Rio aos 26 anos. Há 18 anos coordena a pastoral do Borel. Ele é padre camiliano e ligado à ala progressista da Igreja Católica. Pegoraro leciona ética na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antes de vir para o Rio, Pegoraro vivia em São Paulo, onde, nos anos 60, conta ter participado de manifestações estudantis.
Cruzeiro
A cruz no alto do morro do Borel foi colocada por cerca de 200 pessoas que, em 1979, participaram de uma procissão, segundo o padre Pegoraro, que lembrou ontem a festa religiosa que culminou com a caminhada até o alto do morro.
"Quem botou a cruz fomos nós da Pastoral do Borel e o povo da favela. Não foram traficantes, nada", disse o padre.
A cruz foi retirada durante a ocupação militar no Borel. Em seu lugar, o Exército colocou a bandeira brasileira, que ontem já havia sido retirada.

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