São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 1994
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Refugiados se arriscam por alimento

KURT SCHORK
DA REUTER, EM SARAJEVO

Refugiados se arriscam para comida
Funcionários da ONU disseram na segunda-feira que refugiados de aldeias incendiadas pelas tropas sérvias dentro da zona de segurança de Bihac fazem filas para conseguir alimentos diante de um hospital situado a menos de 1 km da principal linha de frente dos combates.
Kris Janowski, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), disse: Há uma multidão em frente ao hospital, esperando para conseguir comida, porque de uma semana para cá o hospital é o único lugar que recebe alimentos.
Essas pessoas foram, em sua maioria, deslocadas de povoados invadidos e incendiados pelas forças sérvias-bósnias dentro da 'zona de segurança'.
Segundo os funcionários da ONU, a linha de combates que cerca Bihac foi alvejada por fogo pesado de metralhadoras e armas leves durante toda a noite de domingo para segunda-feira e na segunda de manhã.
As forças sérvias já capturaram cerca de um terço da zona de segurança definida pela ONU. Elas estão avançando sobre a cidade desde todos os lados menos o norte, onde as forças governamentais ainda mantêm um estreito corredor de saída.
No domingo os combates mais pesados ocorreram no lado oeste, onde as forças sérvias se encontram a menos de 900 metros do hospital.
Várias granadas caíram em volta do hospital, mas não sobre o prédio principal.
Crescem os temores pela segurança dos cerca de 70 mil civis que se acredita estarem dentro da área de segurança, sem poder sair devido aos combates, e também dos 300 a 400 soldados do governo que ainda defendem a cidade.
O comandante da ONU em Bihac, coronel Jean Charles Lemieux, disse no domingo que a cidade só tem água nas torneiras por uma hora diária. Ele se mostrou preocupado com o efeito do inverno, que se aproxima, sobre os refugiados que se encontram na área.
A Cruz Vermelha Internacional exortou ambos os lados no conflito a respeitarem os direitos dos combatentes e dos civis, e está tentando levar equipes médicas e representantes a Bihac para cuidarem da grande quantidade prevista de refugiados e prisioneiros de guerra.
Se as forças sérvias da Croácia e da Bósnia invadirem a área de segurança, e mais ainda se invadirem o encrave inteiro de Bihac, milhares de civis correrão risco de vida, avisou Janowski, da ONU.
A área de segurança faz parte do encrave de Bihac, no qual cerca de 180 mil civis, em sua maioria muçulmanos, passaram os últimos 31 meses, desde que começou a guerra da Bósnia, cercados por sérvios.
No domingo a ONU propôs um cessar-fogo e a desmilitarização da zona de segurança. O governo bósnio aceitou a proposta, em nome dos seus combatentes da Quinta Unidade. A ONU disseram que até as 13h GMT (11h em Brasília), os sérvios não haviam respondido
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