São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 1994
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Pequeno, médio ou grande?

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Afinal, que tipo de traficante o Exército quer combater: o pequeno, o médio ou o grande? Embora absurda –a lei é rigorosamente a mesma para todo e qualquer tipo de tráfico de drogas–, a pergunta é pertinente diante da declaração do porta-voz da "coalizão" de combate ao tráfico no Rio, segundo a qual o objetivo é atacar o "traficante médio".
Só há uma justificativa para afirmação tão insólita: a conhecida tática militar da contra-informação. Ou seja, diz-se o que não se vai fazer para "enganar" o inimigo.
Logo na primeira semana de atividade no Rio os militares informaram que iriam até buscar o apoio da Receita Federal para detectar os "chefões do tráfico". Ou seja, "grandes".
Mas as ações efetivas que se seguiram foram de combate aos chamados "pés-de-chinelo".
Com a falta de resultados de tais ações –no caso da Mangueira, os traficantes retomaram suas atividades horas após o Exército deixar o local–, a contraditória justificativa veio logo: não estamos interessados no "pequeno tráfico", disse o porta-voz do Exército.
Agora o "alvo" é o "médio traficante", informam os militares, sem acrescentar argumentos que dêem ao cidadão motivos para acreditar.
Enquanto isso, a lei –ora, a lei– continua sendo desrespeitada: invasão de residências sem mandado, inaceitáveis "prisões para averiguação", proibição do tráfego dos jornalistas.
Não resta dúvida de que a ação dos militares tem surtido algum efeito. Impensável que fosse de outro jeito. Diante dos urutus e da parafernália militar, traficantes mascarados armados de fuzis deixaram a paisagem aparente. Agora, os procedimentos são muito mais discretos e é difícil saber quais serão os resultados práticos a médio e longo prazos.
Sejam quais forem eles, resta uma questão: será que os meios utilizados até agora os justificam?

O Exército comanda as operações no Rio. O Exército é uma das Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República. Três homens dizem que foram torturados no morro do Borel. Com a palavra o presidente Itamar Franco.

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