São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Bope faz operação na ladeira dos Tabajaras

LUÍS EDUARDO LEAL; RICARDO FELTRIN
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Pelo menos 250 militares e 50 policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) realizaram das 14h15 às 17h operação de bloqueio na favela da ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, zona sul do Rio.
Quatro pessoas foram presas –três sem documentos e uma em flagrante. O motivo do flagrante não foi divulgado. Os detidos foram levados para o Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, e para a 13ª DP, em Copacabana.
Armados com pistolas e fuzis FAL, os militares fizeram barreiras com jipes e motos em pelo menos sete vias de acesso à favela. No início da operação, um helicóptero deixou militares em "pontos estratégicos" no alto do morro.
Durante 40 minutos, nenhum morador teve autorização para entrar ou sair do local. Eles eram orientados a permanecer a uma distância de 50 metros do principal bloqueio, na ladeira dos Tabajaras.
No alto da Tabajaras, em frente à quadra da escola de samba Vila Rica, dez homens foram mantidos sentados no chão por policiais do Bope. Os homens estavam sem camisa, com as costas em um muro.
A operação irritou Gilson Cardoso, 43, que trabalha no gabinete de perícia médica do Estado.
Cardoso usava terno e gravata e afirmou que acabara de sair de casa para comprar um remédio para a neta, Daiana, de nove meses. "Minha neta está doente e eu estava cuidando dela", disse.
No morro do Borel (zona norte), duas equipes da DRE prenderam dois suspeitos de tráfico, apreenderam três armas e quantidade não divulgada de maconha.
A ação dos policiais aconteceu cerca de 24 horas após tropas do Exército terem deixado o morro, ocupado na sexta-feira. As armas e a droga estavam enterrados em um local conhecido como "Grota".
Através de um informante, a DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) chegou a R.Q.S., 17, e Raimundo Soares dos Santos, 19. Eles foram obrigados a desenterrar as armas e a droga.
R.Q.S. é irmão de Reginaldo Queiroz da Silva, 20, que denunciou no sábado ter sido torturado por militares. A mãe de R.Q.S., Eliete Queiroz, 58, afirmou que que R.Q.S. teria sido "torturado".
O diretor da DRE, Maurílio Moreira da Silva, 61, foi informado das denúncias pela Folha, à tarde, e negou que tivesse ocorrido tortura ou espancamento.

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