São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Educação é mutilada no episódio do brinco

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

É de lascar o caso do garoto Bruno, proibido de ir à escola de brinco.
Nada tenho contra brincos e tampouco a favor da escola Morumbi. Diariamente, passo em frente ao referido estabelecimento de ensino a caminho da Folha e, a fim de conter a náusea causada pelo galináceo desfile de moda apresentado pelas mães dos alunos, sou obrigada a ingerir cartelas inteiras de Plasil.
Exageros à parte, o que mais irrita nesse "melê" é a atitude dos progenitores de Bruno Lencioni, o pivô da história. Avançadinho, o pai, Alexandre Lencioni, afirma ter deixado inteiramente nas mãos do filho –um pirralho de seis anos– a decisão de tirar o brinco ou sair da escola.
Em que planeta vive esse homem? Será que ele não se deu conta do estrago que os métodos pseudoliberais do doutor Spock (o psicólogo, não o ET orelhudo) causaram a toda uma geração de "baby boomers" norte-americanos? Será que ele não percebeu que o episódio do brinco fez de seu filho um exibicionista virtual?
O "laissez-faire" é pouco eficiente na política e menos ainda quando aplicado à educação. Me diga, ó sensato leitor: você já viu uma criança tapuia dizer espontaneamente "por favor" e "obrigado"? Você já comeu em paz em um restaurante onde são permitidas crianças? Você nunca tomou fechada de menor sem carteira de habilitação?
É sintomático que, em vez de ter consultado a escola antes de abrir um buraco na orelha do garoto, o casal Lencioni tenha optado por resolver a questão na delegacia. Demonstra que eles também são vítimas do escracho em que se transformou a educação convencional neste país. Se os pais de Alexandre e Adriana Lencioni tivessem se dado ao trabalho de educá-los, essa baixaria, que sobrou para o garoto, nunca teria ocorrido.

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