São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Mães 'inimigas' defendem educação rígida

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O brinquinho que o menino Bruno Lencioni, de 6 anos, foi impedido de usar na Escola Morumbi acabou colocando em campos opostos mães que têm opiniões muito semelhantes sobre como educar os seus filhos.
"A escola deve ensinar a criança a ter limites, regras de educação e patriotismo", diz a psicóloga Eliana Del Mar, que na última sexta-feira "abraçou" a escola em apoio à decisão da diretoria.
"A escola deve ensinar a criança a respeitar os mais velhos, a ter disciplina e seguir normas", diz a dona-de-casa Adriana Lencioni, mãe de Bruno, que tirou o filho da escola em protesto contra a proibição do brinco e pretende transferi-lo para o Pueri Domus, um colégio tradicional de São Paulo.

Aos 37 anos, casada com um advogado, Eliana Del Mar se divide entre as duas filhas, Anna Luiza, de 6, e Anna Claudia, de 4, e o trabalho à frente de uma loja de roupa feminina nos Jardins.
Ela acredita que a escola "deve ser uma continuação do que se ensina em casa" e acha que um menino de 6 anos "não tem estrutura interna para arcar com as consequências do uso de um brinco".
Eliana conta que recentemente ficou "emocionada" ao ver e ouvir a filha mais nova cantar o hino nacional. "Acho importante ter amor ao país", diz.
Neta de italianos, Eliana teve uma educação que classifica como "tradicional". É católica, estudou em colégio de freiras até o fim do colegial, mas não é praticante.
Não deixa as filhas assistirem novelas e seleciona os filmes que elas podem ver por achar que o cinema e a televisão exibem programas violentos demais.
Atualmente, lê estudos sobre neurolinguística. O último filme que apreciou muito, por conter "mensagens de valores muito positivos", foi "Forrest Gump".
Eliana não se considera uma pessoa engajada politicamente, votou em Maluf para a Prefeitura de São Paulo, em 92, e em Covas para governador e Fernando Henrique para presidente em 94.
"Se tudo isso que disse caracteriza uma pessoa conservadora, então eu sou. Mas não me considero uma pessoa retrógrada. Retrógrados são aqueles que não se atualizam, não ampliam os seus horizontes", diz.

Aos 28 anos, casada e mãe de três filhos, Adriana Lencioni divide o seu tempo entre cinco atividades principais: "O que mais adoro é ler, fazer ginástica, tomar sol, cuidar das crianças e ficar com o meu marido".
Ela acha que a sua divergência com a Escola Morumbi foi mal compreendida. Bruno só foi estudar lá porque, após pesquisar, Adriana concluiu que a escola seria capaz de ensinar ao garoto uma série de normas de disciplina.
"Queria uma escola rígida para os meus filhos, mas que não o impedisse de ser ele mesmo. Sou contra escolas que liberam o uniforme. Mas brinco não é uniforme, é adorno", diz.
Neta de italianos, Adriana estudou no Colégio Dante Alighieri, uma escola tradicional de São Paulo, e fez faculdade de artes.
Ao casar, optou por ser dona-de-casa. "Agora, quero cuidar dos meus filhos e da minha casa. Mais tarde, vou ter todo tempo do mundo", diz.
Como Eliana, Adriana votou em Maluf em 92 e em Covas e FHC em 94. "Odeio política", diz.
Consumidora voraz de filmes românticos e comédias teatrais, também adora os livros do mago Paulo Coelho.
"Não sou conservadora nem liberal. Acredito na evolução das coisas. Uma coisa é educação e respeito. Outra é castração", diz.

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