São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Papel da imprensa

LUÍS NASSIF

Em seu artigo de ontem na Folha, o deputado José Serra abordou um ponto fundamental no processo de estabilização da economia: o papel dos meios de comunicação. Na última década, a imprevisibilidade da economia e da política brasileira produziu um organismo viciado em grandes emoções. Pequenas altas de preços foram superestimadas, bochinchos de mercados transformados em verdades definitivas, estudos de escalões técnicos apresentados como planos de governo... E o tal do mundo não se acabou, como diria Assis Valente.
Nos últimos anos, a abertura da economia, a crise do Estado e a descentralização administrativa mudaram o eixo de decisões do país. As transformações ocorreram no mundo real das empresas, não dos gabinetes oficiais. A cada dia que passa, embora ainda mantenha peso considerável, Brasília fica menos importante, já que o leque de decisões torna-se cada vez mais previsível, porque mais imune a atitudes voluntaristas.
Mesmo assim, cada repórter que sai a campo, principalmente em Brasília, tem a obrigação de trazer um furo. A angústia do furo produz esse torvelinho de boatos, que aumenta na exata proporção da previsibilidade das notícias oficiais.
Conforme bem lembrou senador eleito, o estilo FHC é basicamente desdramatizado, previsível, não conflituoso. Nesse contexto, primeiro a produção de boatos provoca agitações desnecessárias. Depois, causa decepções, quando a realidade não consegue acompanhar o ritmo frenético sugerido pelos boatos.
Novas emoções
O grande desafio de todos nós da imprensa econômica –um pouco dos repórteres, mais da pauta e da edição– consiste em aprender a produzir jornalismo econômico em ambiente de estabilidade.
Os fatos monetários, cambiais (depois de resolvido o nó atual do câmbio), tributários, só raramente fornecerão material para manchetes.
A notícia quente estará novamente no mundo real, nos avanços que as empresas estão experimentando no campo da qualidade, os novos mercados que estão sendo conquistados, as novas tecnologias que estão sendo incorporadas, a nova diplomacia brasileira, a política industrial, o avanço das economias regionais, os conflitos proporcionados pela abertura, com setores que desaparecem e outros que explodem, a mudança nas relações trabalhistas, as novas formas de gestão pública, o trabalho das comissões técnicas da Câmara, o processo de reforma do Estado etc.
A cobertura é mais complicada, mas infinitamente mais rica. Acaba o automatismo das manchetes e das fontes. Quando se muda o leque de cobertura, há a necessidade de um amplo trabalho de reavaliação da importância dos assunto e de mapeamento de novas fontes.
Sem emoção
A inflação está caindo. O preço do feijão voltou a ficar abaixo dos praticados no início do Real. Os preços da carne estão cedendo, do arroz, estão estáveis, acabou-se com a especulação no milho e o preço do frango deve ceder. Definitivamente, uma economia sem graça.

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