São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Mick Jagger diz que está excitado por tocar no Brasil

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A PALM BEACH (EUA)

Entrevistas coletivas com a banda Rolling Stones são sempre um caso internacional. Os quatro membros do núcleo dos Stones –o cantor Mick Jagger, os guitarristas Keith Richards e Ronnie Wood e o baterista Charlie Watts– apareceram para a imprensa anteontem no hotel Four Seasons em Palm Beach (Flórida).
Assunto: anunciar a seção européia da megaturnê "Voodoo Lounge", realizada pelos Stones desde agosto último com pretensões a percorrer os cinco continentes até o fim do ano que vem.
Mas os Stones aproveitaram para falar da excitação que sentem por estarem estreando na América do Sul, especialmente no Brasil e Chile, entre janeiro e fevereiro do ano que vem. "Para nós é importante explorar novos territórios. É excitante a idéia de tocar pela primeira vez no Brasil e no Chile", disse Mick Jagger.
A produção informou a banda sobre a vendagem recorde no Rio e em São Paulo. Era um dos assuntos das conversas.
As datas e locais da excursão pela Europa foram mantidos em segredo por exigência da patrocinadora mundial da turnê, a companhia alemã Volkswagen.
Cerca de 80 jornalistas de jornais e TVs de todo o mundo compareceram à ocasião. Foram acomodados em mesinhas decoradas com caveiras e insetos, elementos típicos do vodu. Nas paredes, desenhos tirados do CD "Voodoo Lounge".
Como já é hábito, a banda atrasou. Alterou duas vezes o horário de início da entrevista e só chegou 20 minutos depois do combinado, às 18h20 (21h20 pelo horário de Brasília).
Vestiam o uniforme do grupo: blazer, jeans e camiseta. Orientados por Jagger, sentaram-se bem-comportados, sorriram para as câmeras e responderam às perguntas durante 25 minutos. Mick cronometrou tudo, como se estivesse no show.
"Estamos aqui para anunciar a excursão por 19 cidades européias entre junho e agosto de 1995", disse Jagger, dando o tom profissional ao encontro.
A turnê européia começa dia 3 de junho em Estocolmo (Suécia). Passa pela Escandinávia, Holanda, Alemanha, Bélgica, Itália, França, Inglaterra (duas noites, contra quatro no Brasil), Espanha, Portugal, Suíça, Áustria e, pela primeira vez, República Tcheca. Toca dia 5 de agosto em Praga.
"Voodoo Lounge" é considerada a maior excursão já realizada por uma banda de rock. Antes de cada show, um comboio de 58 caminhões descarrega no local 176 toneladas de aço e equipamentos. "O palco é sempre o mesmo", contou Jagger. "Na Europa, não será diferente."
Um repórter do tablóide inglês "Daily Mirror" perguntou se é verdade que o grupo vai lucrar US$ 125 milhões após os 18 meses da turnê. Jagger desconversou: "Nós gastamos muito dinheiro também. Não se trata apenas de ganhar dinheiro. Queremos nos divertir e fazer as pessoas se divertirem."
A jornalista suíça propôs uma discussão original: "Que imagem vocês tiveram da Suíça na última viagem?" Jagger disparou: "Me lembro bem de que o trem partiu."
Sobre novas bandas, ele não quis arriscar: "Adorei o show 'Zooropa', do U2, que não é exatamente uma banda nova. Mas foi um dos melhores shows da minha vida". Não custa lembrar que os projetos de palco de "Zooropa" e "Voodoo Lounge" são de um mesmo autor: Mark Fischer, que trabalha há cinco anos para os Stones.
Jagger dominou a cena. Disse que não se sente mais o homem mais sensual do mundo. "Acho que o título deve ser passado para os integrantes mais novos da banda", brincou, olhando para o cansado Ronnie Wood.
A questão de sempre veio à tona: qual o segredo da longevidade dos Stones?
Richards respondeu: "Sempre fazemos o mesmo tipo de música, só que tentando aperfeiçoá-la a cada dia. Somos muito críticos". "Ensaiamos demais", atravessou Jagger. "É o trabalho diário que dá qualidade aos shows."
Richards foi lembrado que o hit "Satisfaction" está completando 30 anos. "Não me lembro de nada. Gravei a música numa fita e a gravadora resolveu lançá-la em compacto. Foi decisão empresarial. Hoje, quando ouço 'Satisfaction', costumo roncar."
Alguém emendou: "E vocês hoje se sentem satisfeitos?" Jagger e Richards se entreolharam. "Sei lá!", riu o segundo. "Posso dizer que estou satisfeito sexualmente", brincou o primeiro.
Um jornalista informou que "Sympathy for the Devil", sucesso da banda lançado em 1969, ainda produz reações em criminosos e psicóticos. "A que vocês atribuem o poder da canção?" Jagger deu de ombros: "É curioso. Quando fiz a música pensei em um filme de TV."
O cantor explicou por que se interessa em desbravar novas tecnologias, como a rede Internet, que transmitiu um show da banda há duas semanas: "Foi uma experiência importante porque já é possível prever que num futuro próximo os shows de rock serão transmitidos assim".
Pediu desculpas à maioria do público, que não pôde ver o show pela Internet, mas argumentou que esse é o preço da tecnologia. "Mais tarde as pessoas vão ter acesso e gostar do sistema."
Entre outros assuntos, Jagger afirmou que consegue manter a vida familiar. "Estamos sempre nos vendo", contou. "Às vezes minha família vem ao show. Outras, tiro folgas. Como neste Natal e no verão. Há sempre espaço para a família."
Numa única intervenção, o reticente Watts deu sua opinião sobre as diferenças entre as juventudes das décadas de 60 e 90: "Não tenho a mínima idéia!"
Richards jurou preferir sair pela estrada a gravar um disco (o último foi criado em dez dias em Barbados): "A troca de energia com o público é a maior fonte de inspiração." Revelou que está compondo com Jagger durante a excursão. "Mas são músicas tão novas que não podem ser descritas."
Jagger consultou o relógio, agradeceu e fez os companheiros sorrirem mais uma vez para as fotos. Antes que alguém pedisse autógrafo, os quatro se rertiraram como atores que já conhecem a peça de cor.

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