São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 1994
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Tortura ou empulhação?

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Na década de 70, a imagem externa do Brasil era frequentemente associada às denúncias de tortura. Com a redemocratização, passamos a ser identificados como o país das desigualdades sociais.
Agora, as duas imagens estão momentaneamente fundidas. E continuarão assim até que se encontre resposta para uma enorme e incômoda interrogação que paira sobre o Rio de Janeiro.
Afinal, houve ou não tortura no interior da igreja do Morro do Borel? Eis uma questão que não pode vagar sem resposta.
Há entre os denunciantes um pároco e duas freiras. Trata-se, em tese, de gente pouco afeita ao hábito da mentira.
Na outra ponta, há oficiais militares que negam o fato. Queixam-se de suposto movimento para tentar desmoralizar a Operação Rio.
O problema parece de fácil solução. Nada que uma boa e honesta investigação não possa resolver.
O comando da operação tem reiterado a disposição de manter a ação militar no âmbito da legalidade. Tem-se agora uma oportunidade de passar do campo da intenção para a esfera prática.
Ontem, divulgou-se um laudo do Instituto Médico Legal. O documento revela que pelo menos três pessoas foram submetidas a atos de violência.
Há outros indícios de que algo de anormal ocorreu na sacristia. Existem marcas de sangue em móveis, para mencionar apenas um detalhe.
O porta-voz do Exército, general Gilberto Serra, pediu ao presidente da CNBB, d. Luciano Mendes de Almeida, que o mantenha informado sobre eventuais falhas da tropa.
A providência, louvável e útil para episódios futuros, é dispensável para o caso do Borel, excessivamente noticiado.
Cumpre apenas apurar os detalhes. Após uma investigação preliminar, o Exército parecia convencido ontem de que não houve tortura. Muito bem. Que venham à luz os esclarecimentos.
Pois enquanto perdurar a impressão de que há torturados, sobreviverá também a desagradável sensação de que há torturadores impunes.

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