São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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Como antigamente

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Confirmou-se o temor de alguns, ou muitos. Até o Viva Rio, antes reticente, agora vê com bons olhos a permanência dos soldados. Foi o que pediu ao presidente eleito, ainda ontem, segundo a CBN. Mais importante, talvez, é uma avaliação como a da Manchete, rede carioca, concorrente da Globo.
Aí vai, quase na íntegra, o balanço feito ontem por ela:
– A operação de combate ao crime organizado completa um mês, com o apoio da população. No período, o Exército subiu os morros mais perigosos da cidade, pessoas foram presas, armas, munição e drogas, apreendidas. A Operação Rio resgatou a autoridade e devolveu a tranquilidade ao Rio.
Não faltaram números, na exaltação feita pela Manchete:
– O número de mortes violentas em toda a cidade diminuiu 39%. Na Tijuca, bairro de classe média na zona norte, houve redução nos assaltos a residências. Em outubro, 15 casas foram arrombadas. Em novembro o número caiu para a metade. O bairro teve queda de 15% nos furtos de carros.
Também nas favelas, ou nos morros, as coisas melhoraram:
– No Borel, um dos morros mais perigosos do Rio, a venda de drogas quase desapareceu. A favela parece calma. Não há traficantes exibindo armas. As crianças brincam, como antigamente. Nos locais de movimento, o Exército garante a segurança. A presença dos soldados não chama mais a atenção.
Paulada
O mais inquietante é que balanços assim surgem quando a denúncia de tortura vai-se confirmando, no morro do Borel. Surgem como que querendo não ver o que aconteceu. Para a Record, houve mesmo tortura.
Mais de uma pessoa "teve as agressões confirmadas em laudo". Uma "vítima da violência dos soldados", que "foi espancado por quase seis horas por soldados da Brigada Pára-quedista do Exército", relatou:
– Levaram para o quartinho. No quartinho é que foi o massacre mesmo. Lá deram paulada, fizeram de tudo. Bateram na gente pelado. Mandaram tirar a roupa, amarraram as mãos e começaram a bater.
Retirada
O resultado é que, apesar dos balanços elogiosos no Rio, "as denúncias de tortura acabaram provocando discussão no Alto Comando", segundo o SBT. O comandante da Escola Superior de Guerra, por exemplo, já "defende a retirada dos soldados o mais rápido possível".

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