São Paulo, quinta-feira, 1 de dezembro de 1994
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Inseminação dá filho branco a casal negro

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O casal Ademir e Denise da Silva –ele negro e ela mulata– vai entrar na Justiça na próxima semana contra a equipe médica contratada há cinco anos para fazer uma inseminação artificial em Denise.
Thiago, o filho que hoje tem quatro anos, é branco. Ademir, 43, vendedor de telefones, e Denise, 37, funcionária pública municipal, querem ser indenizados por "abalo moral". Eles moram em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (RS).
O casal, que assumiu o filho e diz tratá-lo "com amor", declarou ontem à Agência Folha que a diferença de cor entre eles e Thiago tornou a vida um "sofrimento". Denise já tentou o suicídio, segundo o advogado Irani Mariani, que vai entrar com a ação judicial.
Ademir, que não pode ter filhos por insuficiência de espermatozóides, está convencido de que houve erro na seleção do sêmen. "Sonhávamos em ter um filho da nossa cor e foi isto que pedimos aos responsáveis pela inseminação."
Segundo Mariani, para quem é "incontestável" a existência de erro médico, Thiago foi registrado no cartório como se fosse de cor negra. Conforme o advogado, os responsáveis pela inseminação disseram depois do nascimento que o menino "pegaria cor".
Mariani afirmou que, por causa da diferença de cor com relação aos pais, o menino "vai carregar uma cruz para o resto da vida".
Ademir disse que, desde que Thiago nasceu, a família mudou-se de casa 12 vezes, fugindo de perguntas constrangedoras e irônicas dos vizinhos sobre como um pai negro e uma mãe mulata poderiam ter um filho branco.
Denise disse que já lhe perguntaram se era babá de Thiago. Ademir afirmou que um policial demonstrou desconfiança ao vê-lo viajando de carro com o menino.
Segundo Ademir, ele e sua mulher decidiram ingressar agora na Justiça porque os responsáveis pela inseminação se recusaram a prestar-lhes assistência.
"Queremos que o erro deles seja reconhecido, para que outras pessoas não passem pelo que nós passamos", disse Ademir.
O advogado disse que, se vencer a causa, a Justiça deve fixar a indenização do casal entre 1.000 e 2.000 salários mínimos (de R$ 70 mil a R$ 140 mil).

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