São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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A culpa é do regulamento, caro Watson

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O deficitário Campeonato Brasileiro é uma vergonha nacional. Ao tentar explicar a seus leitores o inexplicável regulamento do primeiro certame nacional pós-Tetra, um jornalista inglês chamou-o de esdrúxulo.
Mas inspirado no meu ex-companheiro da BBC de Londres, o botafoguense Ivan Lessa, digo que o futebol, no Bananão, em ano de conquista inédita, é simplesmente grotesco.
Ao invés de estarem comemorando recordes de público nos estádios e aumentando a arrecadação dos clubes com novos patrocínios e merchandising, os dirigentes (?) anunciam o novo calendário para o ano que vem que, como disse o Matinas aqui neste espaço, é "mais um atentado contra a modernização do país".
O calendário nacional deveria simplesmente se adequar ao calendário europeu. Um dirigente (?) do futebol paulista, resignado, disse que os principais jogadores deste Brasileiro devem ir para o futebol europeu em 95.
Devia ser ao contrário. A mística do futebol brasileiro, sustentada pelos lucros que um campeonato competitivo, deveria atrair os melhores jogadores do mundo.
Uma sondagem feita por uma revista de esportes inglesa mostrou que nove em cada dez craques europeus gostariam de passar pelo menos uma temporada ao lado dos "melhores jogadores do mundo".
O que se vê, porém, são clubes de pires na mão, estádios vazios e caindo aos pedaços, gramados carecas e esburacados, violência dentro e fora das quatro linhas. Jogos em que, subvertendo o princípio da competição, até a derrota basta. Jogadores provocando receber o cartão amarelo, reservas em campo, e o tal de efeito suspensivo, que nada mais é do um incentivo à indisciplina. Grotesco.
Em que país europeu um campeonato só começa depois de quatro meses de "ter começado"? Em que país europeu o público toma conhecimento do horário e local dos jogos 24 horas antes de sua realização? Onde já se viu um time ir a campo com um misto quando está em jogo o interesse de terceiros? Quando um clube profissional europeu desperdiça recursos e cansa o público, fazendo, no mesmo dia, a preliminar e o jogo principal? Pra que serve a Conmebol (?)? Como pode um Fla x Flu levar menos de 1.000 testemunhas ao gigante do Maracanã?
Não é a violência –esse um problema gerado pela degradação social do país– que dá a distinção ao campeonato do Tetra de bater recordes negativos de público. O culpado é o regulamento.
Os números não mentem. No fim-de-semana 19/20 de novembro, a média de público nos 12 jogos de mais uma rodada do Campeonato Inglês da 2ª Divisão foi de 11.302 torcedores. No mesmo fim-de-semana, a média de público nos oito jogos da rodada do Brasileiro foi de apenas 9.576 cristos.
Turno e returno com pontos corridos e rebaixamento e promoção entre quatro divisões nacionais ou os "criativos" regulamentos da CBF e seus comparsas nos clubes? Elementar, meu caro Watson.

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