São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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"Inferno Branco" é novelão com programa social contra drogas

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Filme: Inferno Branco
Direção: Leon Ichaso
Elenco: Wesley Snipes, Michael Wright, Teresa Randle, Abe Vigoda
Onde: Ipiranga 1

A cena é em preto-e-branco "clássico". Com uma dose de heroína na seringa, a mãe pede ao filho mais velho, de dez anos, que a ajude a achar uma veia. Em segundos, ela está morta, de overdose, na frente dos dois filhos, entre os choros histéricos das crianças e solos agudos de saxofone. Começa "Inferno Branco".
O filme até podia ser uma história de ação normal, com muita violência, vinganças, drogas, tiros e guerra de gangues. A pretensão não permite. É um novelão com programa social.
Na pele do antológico Nino Brown, chefão do tráfico de crack de "New Jack City", Wesley Snipes festejava o poder de seu dinheiro o tempo todo. Como o chefão da heroína de "Inferno Branco", ele só sabe se lamentar.
Ele é uma das crianças da primeira cena, que ainda vêem o pai viciado levar tiros de traficantes. Contrariando o bom senso, os dois irmãos vão fazer fortunas no negócio das drogas. É lógico que acabam se confrontando.
Cada sequência afunda mais ainda na depressão estilizada.
A tragédia acontece quase que exclusivamente em tomadas noturnas, sob reflexos de contra-luz e envolvendo personagens com sérios sobretudos de grife.
A trilha "cool" de Jack Nitzche reforça o tema, como numa bela propaganda de cigarros.
O tema é a desintegração da família negra, espelhada pela decadência urbana. As locações em Sugar Hill (o título original do filme), um quarteirão famoso do Harlem do jazz, transformado em ruínas pouco românticas na era do rap, resume a metáfora.
A moral da história aponta como culpado pelo estado de corrosão o veneno da heroína. Um chefão mafioso chega a suspirar lembranças de um tempo em que os únicos drogados no Harlem eram músicos e beatniks.

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