São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vicent Ward promove caso de amor entre esquimó e cigana

HAMILTON ROSA JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com "O Mapa do Coração", Vicent Ward consolida uma reputação pelo bizarro que só tem igual em David Lynch. Quem viu "O Intruso" não se esquece da forma como mesmo uma simples paissagem rural adquiria feições insólitas. É inesquecível também o olhar de pânico de um garoto medieval ao se deparar com caminhões numa rodovia do século 20 em "Navigator".
Agora, em seu terceiro trabalho, Ward propõe um filme romântico, um caso de amor inusitado, em que aproxima as artérias do corpo humano às linhas tortuosas da Terra.
Jason Scott Lee, visto recentemente em "Rapa Nui", faz Avik, um esquimó que chega ao topo do céu quando viaja num bimotor a convite de um explorador. Depois disso, ele nunca mais é aceito pelo povo de sua aldeia.
Condenado a não mais encontrar um porto seguro, esse Ícaro do Ártico se apaixona por outra expatriada, a cigana Albertine (Anne Parillaud, de "Nikita"), num hospital de tuberculosos. Sem compreender as razões que atraem o casal, a enfermeira-chefe (Jeanne Moreau) trama a separação e ao acaso acaba definindo o destino dos dois.
Castigo dos deuses? Para Avik, talvez. Mas o mundo é tão pequeno para o nativo quanto a única lembrança que ele conserva de Albertine: a radiografia de seu coração. Voando num bombardeio durante a Segunda Guerra, ele vai procurar a mulher.
A história deste romance de desgarrados é de autoria do próprio Ward. Na busca de Albertine, seu herói revela um desânimo que só é menor que o pessimismo do diretor. Mesmo no reencontro de Avik com a amada, os planos enfatizam a distância dos corpos.
Para Ward, a pureza é algo morto na sociedade. Por isso seus amantes só se encontram longe do olhar de todos, dentro de um balão. A concepção visual é o ponto mais particular do cinema de Vicent Ward.

Filme: O Mapa do Coração Humano
Direção: Vicent Ward
Elenco: Jason Scott Lee, Patrick Bergin, Anne Parillaud, John Cusack, Jeanne Moreau
Onde: Belas Artes/sala Cândido Portinari

Texto Anterior: Fascínio da perversão move "Exótica"
Próximo Texto: "Inferno Branco" é novelão com programa social contra drogas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.