São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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Bispo e Nuno Ramos vão à Bienal de Veneza

DA REPORTAGEM LOCAL

Arthur Bispo do Rosário (1911-1988), um interno da Colônia Juliano Moreira do Rio com o diagnóstico de esquizofrenia paranóide, e Nuno Ramos, 34, vão representar o Brasil na 46ª Bienal de Veneza em 1995. É a mais tradicional mostra de arte do mundo. Faz 100 anos em 1995.
Os nomes foram anunciados ontem por Nelson Aguilar, 46, curador da Fundação Bienal.
Aguilar escolheu Dudi Maia Rosa, Adriana Varejão e Marcos Coelho Benjamin para representar o país na 1ª Bienal de Johannesburgo, na África do Sul, que acontece entre 28 de fevereiro e 30 de abril do próximo ano.
O tema da Bienal de Veneza, que vai de 11 de junho a 15 de outubro de 1995, é "Identidade e Alteridade". A idéia do curador francês Jean Clair, um ex-diretor do Museu Picasso de Paris, é discutir os 100 anos de arte moderna e uma coincidência –a carteira de identidade também completa um século em 1995.
Aguilar diz que escolheu Bispo do Rosário e Nuno Ramos porque simbolizam a "perda da identidade e a busca da identidade sonhada", respectivamente.
Em texto divulgado ontem, Aguilar afirma que o "Traje para ver Deus" de Bispo do Rosário, uma roupa criada pelo artista, é a "versão única em estilo contemporâneo da Capela Sistina", a obra-prima de Michelangelo.
Sobre Nuno Ramos, Aguilar diz que "conseguiu como nenhum realizar a obra de arte social adequada à realidade brasileira contemporânea, na famigerada instalação '111'."
A instalação é sobre o massacre de 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, em 2 outubro de 1992.
A Fundação Bienal divulgou detalhes sobre a exposição de Oscar Niemeyer na Bienal de Arquitetura de Veneza em 1995.
A mostra terá 700 m2 e será acompanhada de um catálogo trílingue com cerca de 600 páginas. Niemeyer vai incluir no catálogo sua autobiografia, inédita.
A 1ª Bienal de Johannesburgo é considerada por Aguilar como "o grande evento cultural do governo Mandela". Seu tema é político. Pretende discutir raça, sexo, religião e descolonização.
"Eu não faria uma Bienal com este tema", diz Aguilar. "Há o risco de se transformar o artista em documentarista".
No texto que divulgou ontem, ele escreve: "É importante lembrar a nossos colegas que derrubaram o apartheid que o processo criativo é por vezes mais militante que a representação de batalhas".
Aguilar anunciou que a Casa das Culturas do Mundo de Berlim vai expor sete artistas da representação brasileira na 22ª Bienal.
Os artistas são os seguintes: Adriana Varejão, Dudi Maia Rosa, Fernanda Gomes, Leda Catunda, Mariannita Luzatti, Paulo Pasta e Valeska Soares.
A mostra acontece entre 23 de março e 21 de maio.

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