São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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Público aplaude 'A Causa Secreta'

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O longa-metragem "A Causa Secreta", de Sergio Bianchi, arrancou aplausos das cerca de mil pessoas que lotaram o Cine Brasília anteontem à noite na abertura da mostra competitiva do 27º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Depois da sessão, Bianchi disse se sentir "de alma lavada" pela reação do público.
"Isso mostra que essa coisa de me chamarem de polêmico, de maldito, é papo furado", desabafou o diretor a um grupo de jornalistas.
"A Causa Secreta", que já passou no cinema em São Paulo e no Rio, é um filme que mostra as formas mais terríveis de sofrimento físico e moral. Sua história acompanha um grupo teatral que monta uma adaptação do conto homônimo de Machado de Assis. Quando foi exibido no Festival de Gramado deste ano, parte da platéia abandonou a projeção no meio.
O filme de Bianchi foi escolhido para participar da mostra não-competitiva Panorama do Cinema Mundial no próximo Festival de Berlim. O diretor já está escrevendo o roteiro para seu próximo filme, que deverá se chamar "Discussões Vagabundas" e tratará do mito da "brasilidade". "Quero discutir quem é que fatura com essa conversa de 'alma brasileira' ", disse o cineasta à Folha.
O filme mais aclamado da noite, entretanto, foi o curta "Extingue!", de Eduardo Caron. Com uma realização primorosa, "Extingue!" é um trabalho de ficção interpretado por índios no limiar da aculturação absoluta e falado em guarani, com legendas em português. Há de tudo no filme: ação, drama, humor e muita música.
O outro curta da noite, "Robô", de Bruno de André, também foi aplaudido, embora seu tom seja quase oposto, intimista e sutil: contrapõe uma cena muda entre um homem e uma mulher que acabaram de fazer sexo a uma aula de física que decompõe a situação.
Vandré
A coletiva de Geraldo Vandré, na manhã de ontem no Kubitschek Plaza, foi um espetáculo ora divertido, ora constrangedor. De terno branco, sapato branco e cinto branco com o emblema da Aeronáutica, o compositor mesclou digressões estapafúrdias pelo direito constitucional e pela etimologia das palavras a declarações de louvor à nacionalidade brasileira.
Depois de inúmeras tentativas frustradas dos jornalistas, consequiu-se enfim que o compositor falasse um pouco da música que compôs para o clássico "A Hora e a Vez de Augusto Matraga". Ao lado da viúva do diretor Roberto Santos, Marília, ele disse que retomou temas do folclore mineiro para compor a trilha.
Vandré disse que hoje é "muito mais subversivo" do que era nos anos 60, pois escolheu ficar de fora (não votou, por exemplo, no plebiscito sobre forma de governo, e considera que a Constituição não existe). Afirmou que nunca participou do CPC da UNE, por considerar a entidade panfletária e partidária. "Como os estadistas, eu acho que o Estado está acima dos partidos", declarou Vandré, que terminou a entrevista tentando fazer os jornalistas cantarem em coro "Fabiana", a canção que compôs para a FAB.

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