São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994 |
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Público aplaude 'A Causa Secreta'
JOSÉ GERALDO COUTO
"Isso mostra que essa coisa de me chamarem de polêmico, de maldito, é papo furado", desabafou o diretor a um grupo de jornalistas. "A Causa Secreta", que já passou no cinema em São Paulo e no Rio, é um filme que mostra as formas mais terríveis de sofrimento físico e moral. Sua história acompanha um grupo teatral que monta uma adaptação do conto homônimo de Machado de Assis. Quando foi exibido no Festival de Gramado deste ano, parte da platéia abandonou a projeção no meio. O filme de Bianchi foi escolhido para participar da mostra não-competitiva Panorama do Cinema Mundial no próximo Festival de Berlim. O diretor já está escrevendo o roteiro para seu próximo filme, que deverá se chamar "Discussões Vagabundas" e tratará do mito da "brasilidade". "Quero discutir quem é que fatura com essa conversa de 'alma brasileira' ", disse o cineasta à Folha. O filme mais aclamado da noite, entretanto, foi o curta "Extingue!", de Eduardo Caron. Com uma realização primorosa, "Extingue!" é um trabalho de ficção interpretado por índios no limiar da aculturação absoluta e falado em guarani, com legendas em português. Há de tudo no filme: ação, drama, humor e muita música. O outro curta da noite, "Robô", de Bruno de André, também foi aplaudido, embora seu tom seja quase oposto, intimista e sutil: contrapõe uma cena muda entre um homem e uma mulher que acabaram de fazer sexo a uma aula de física que decompõe a situação. Vandré A coletiva de Geraldo Vandré, na manhã de ontem no Kubitschek Plaza, foi um espetáculo ora divertido, ora constrangedor. De terno branco, sapato branco e cinto branco com o emblema da Aeronáutica, o compositor mesclou digressões estapafúrdias pelo direito constitucional e pela etimologia das palavras a declarações de louvor à nacionalidade brasileira. Depois de inúmeras tentativas frustradas dos jornalistas, consequiu-se enfim que o compositor falasse um pouco da música que compôs para o clássico "A Hora e a Vez de Augusto Matraga". Ao lado da viúva do diretor Roberto Santos, Marília, ele disse que retomou temas do folclore mineiro para compor a trilha. Vandré disse que hoje é "muito mais subversivo" do que era nos anos 60, pois escolheu ficar de fora (não votou, por exemplo, no plebiscito sobre forma de governo, e considera que a Constituição não existe). Afirmou que nunca participou do CPC da UNE, por considerar a entidade panfletária e partidária. "Como os estadistas, eu acho que o Estado está acima dos partidos", declarou Vandré, que terminou a entrevista tentando fazer os jornalistas cantarem em coro "Fabiana", a canção que compôs para a FAB. Texto Anterior: Busca espiritual precisa da alegria Próximo Texto: Robert Redford ataca obsessão pelo lucro Índice |
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