São Paulo, sexta-feira, 2 de dezembro de 1994
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Velha novidade

A grande novidade da "nova" equipe econômica é exatamente o fato de ela ser "velha".
É a primeira vez, desde que a memória alcança, que um novo governo se inicia sem alterar o essencial do Ministério da Fazenda –se forem de fato confirmadas as informações divulgadas por toda a mídia. Mesmo no período militar, na aparência uma continuidade, havia, a cada troca de general-presidente, uma forte expectativa em torno de quem chefiaria a economia.
O hoje deputado Delfim Netto, todo-poderoso titular dessa área durante o período Médici, foi condenado ao ostracismo na gestão seguinte, do general Geisel, para ressurgir com Figueiredo.
O período democrático, por sua vez, assistiu a um festival interminável de ministros. Entre Francisco Dornelles e Ciro Gomes, alternaram-se dez outros nomes em apenas dez anos (85/94).
Agora, a indicação oficiosa do novo titular da Fazenda, Pedro Malan, só foi alçada às manchetes por inércia. Malan já era o candidato de Fernando Henrique Cardoso para substituir Rubens Ricupero e figurava em lugar de destaque em todas as listas de ministeriáveis.
Da mesma forma, os outros nomes que comporão o núcleo principal da equipe econômica são os que já estão nos cargos centrais.
Há, certamente, uma vantagem na manutenção desse núcleo: ninguém poderá alegar, no caso de um eventual malogro do Plano Real, que foi um problema de descontinuidade administrativa. Os ideólogos e executores do real permanecerão no comando da economia.
Há uma segunda vantagem, decorrente da primeira: o fato de não ter havido surpresas tranquiliza os agentes econômicos.
Mas qualquer outro juízo de valor sobre o futuro ministro e sua equipe tem, necessariamente, que ser remetido para o futuro. Por mais que o Plano Real tenha funcionado bem até agora, seus próprios autores não se cansam de advertir que a estabilidade da economia é um processo que depende de reformas estruturais.
Fica claro, portanto, que a equipe que ajudou direta ou indiretamente a eleger FHC será igualmente responsável pela manutenção, crescimento ou queda da popularidade do futuro presidente.

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