São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Por uma presidência digna na Câmara Municipal

FRANCISCO WHITAKER

Democratizar é um processo lento. E como os que não gostam de democracia dispõem de sua parcela de poder –muitas vezes enorme– sua ação, manipulando o uso das próprias instituições democráticas, torna o processo ainda mais lento.
A mais básica dessas instituições, que é o parlamento, é das que avançam mais devagar: na verdade nela se aninha a maioria dos políticos mal-educados pelo regime militar.
Assim mesmo vai-se caminhando. Por exemplo, começam a surgir experiências de acompanhamento das atividades parlamentares por cidadãos que tomam consciência da importância desse poder.
Nesse sentido, é animadora a notícia de que entidades da sociedade civil estão pretendendo seguir mais de perto a eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa Estadual, tradicionalmente deixada por conta dos deputados e seus acertos com o Executivo, sempre interessado em colocar, na direção do Legislativo, parlamentares que o apóiem. O poder real dessa direção é tal que sua eleição interessa de fato a toda a sociedade, pois é ela que sofre as consequências se a mesa for truculenta e direcionar pouco democraticamente os processos decisórios do parlamento.
Imagine-se uma mesa submetida a um Executivo de mesma índole: o Legislativo se aniquila, deixando tanto de legislar segundo os interesses nele representados como de fiscalizar seriamente o Executivo.
Mas a eleição de sua próxima mesa parece que ainda não está merecendo maior consideração. O controle social que poderá ocorrer na eleição da mesa da Assembléia estadual não poderia se voltar também para a Câmara Municipal? Se isso não acontecer, tudo se decidirá como sempre: na azáfama nervosa de reuniões nos gabinetes dos vereadores, em contato telefônico direto com o prefeito.
Se cochichará sobre distribuição de cargos e dólares aliciando votos. E como a Câmara ainda não teve coragem de fazer com que essa eleição deixe de ser secreta, ficará fazendo conjecturas sobre quem terá sido comprado para trair algum dos candidatos. E a cidade alheia ao que se passa numa instituição cujas decisões interferem na sua vida. A eleição é em 15 de dezembro. Haverá gente disposta a evitar aos paulistanos o desgosto de ver, na presidência da Câmara, alguém que São Paulo não merece?

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