São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Estudante acusa sua faculdade de racismo

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

A estudante do curso de letras da Faculdade Aelis, de Santos (SP), Maria Cristina Pereira Santos, 23, prestou queixa na polícia por crime de racismo contra a entidade de ensino.
O boletim de ocorrência tem como testemunhas 11 alunos da classe de Cristina. Segundo a estudante, na última sexta-feira ela realizava prova na Aelis quando uma equipe de filmagem entrou na sala para gravar um comercial para a faculdade.
"A diretoria não queria que uma aluna negra aparecesse na propaganda. Por isso, fizeram com que eu saísse do meu lugar, no meio da prova", disse Cristina.
"Eu presenciei ela ser retirada da cadeira onde fazia prova para que outra moça, que não é negra, sentasse em seu lugar e fosse filmada. Isso é preconceito", disse Zilda Magalhães, da mesma classe de Maria Cristina.
A diretora geral da instituição, Maria Otília Pires Lanza, disse à Agência Folha que a acusação de Maria Cristina "é falsa".
Lanza disse que o pedido para que a estudante saísse do seu lugar "se deveu exclusivamente ao fato de que outras alunas haviam sido contatadas anteriormente para aparecer na filmagem".
Segundo Zilda, a declaração da diretora não procede. "A autorização para uso da imagem só foi pedida aos alunos no dia seguinte à realização das filmagens."
O diretor do filme, Antonio Marchese, afirmou ontem que Maria Cristina não foi filmada por uma questão de "padrão estético". Ele disse que a estudante estava "desarrumada".
"Estamos ainda recebendo essas autorizações, que começaram a ser solicitadas pela faculdade no dia seguinte às filmagens", disse Marchese.
Para o representante do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Santos, José Ricardo dos Santos, a explicação da diretora da Aelis "não convence".
"Bastaria ter sido feito um pedido para que a Cristina autorizasse o uso de sua imagem. Com isso, inclusive, ela poderia continuar a sua prova, direito legítimo de todo aluno", disse.
O departamento jurídico da entidade irá entrar com uma representação contra a Faculdade Aelis junto ao Ministério Público.
A Casa da Cultura da Mulher Negra de Santos diz que o número de queixas de racismo que se transformam em processos penais teria tido um aumento de 50% este ano em relação ao ano passado.
Até o último mês de outubro, nove casos de preconceito racial envolvendo negros foram levados ao Fórum de Santos pelos advogados da Casa de Cultura.
A coordenadora da Casa, Alzira Rufino, crê que o aumento nas queixas tenha origem "na maior participação do negro na parcela do mercado de trabalho".

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