São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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O futuro por um triz

ALOYSIO NUNES FERREIRA
O Estado de São Paulo está prestes a concluir a primeira etapa de um complexo e audacioso projeto, sintonizado com o que está hoje em marcha nas metrópoles mundiais. Trata-se da administração, sob uma única autoridade local, de todos os serviços de transporte metropolitano –ônibus, metrô e trens–, possibilitando, assim maior racionalidade nos investimentos e eficiência da operação.
Sonho antigo da comunidade de transportes, esse projeto vem se materializando ao longo dos últimos anos. Para atendê-lo, foi criada, primeiramente, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), que assumiu a operação do sistema estruturador intermunicipal de ônibus, então sob a responsabilidade do METRÔ. Em seguida, já no governo Fleury, foi estadualizada a CBTU, empresa anteriormente federal, que se incorporou à CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Resta, agora, incorporar, também à CPTM, o trem metropolitano da FEPASA. São três centenários redes ferroviárias, com cerca de 270 quilômetros e 90 estações, que cobrem todos os quadrantes da região metropolitana. Apesar de extenso, esse sistema transporta, hoje, menos de 1 milhão de passageiros/dia. Enquanto isso, as três linhas de metrô, com 42 quilômetros atendem 2,1 milhões de passageiros/dia.
Com a cisão e investimentos relativamente reduzidos, os trens metropolitanos poderão ser recuperados, a rede de serviços, concluída e otimizada, com nível de qualidade de Primeiro Mundo. O sistema estará apto a atender a uma demanda entre 3 milhões e 4 milhões de passageiros/dia.
A conclusão da cisão da Fepasa, já prevista na lei de criação da CPTM (lei nº 7.861, de 28/5/92), depende apenas da aprovação do projeto nº 395/94, em tramitação na Assembléia Legislativa.
Contra ele, tem sido apresentado, como entrave, o fato de não tratar da "dívida da Fepasa". Acontece que a dívida foi estadualizada há dez anos. De acordo com o Convênio de Fev/87, celebrado justamente para viabilizar esse mesmo projeto, o pagamento de tal dívida cabe ao Tesouro do Estado, que, aliás, a tem honrado religiosamente desde então. Pelo brandir dessa falsa questão, num quadro de final de legislatura e de governo, corre-se o risco de não se ter o projeto aprovado, o que contribuirá para o agravamento da degradação do sistema e dos serviços da Fepasa. Para se ter idéia da penúria da empresa, um terço de sua frota de trens já está fora de circulação. Outra consequência drástica da não-aprovação do projeto será o cancelamento da assinatura de contrato com o BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que garante um financiamento no valor de US$ 720 milhões.
Sem esse montante de recursos, protelam-se, indefinidamente, a conclusão do projeto original da linha sul da Fepasa (junto ao rio Pinheiros), que prevê a criação de oito novas estações, e a construção da linha Campo Limpo-Santo Amaro. Mais uma vez, a população paulistana sofrerá os prejuízos.

ALOYSIO NUNES FERREIRA, 48, é vice-governador do Estado de São Paulo e deputado federal eleito pelo PMDB de São Paulo. Foi secretário estadual dos Transportes Metropolitanos (governo Fleury).

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