São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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A propaganda é paulista

FRANCESC PETIT

Isto não é regionalismo, é apenas um fato histórico: cada região tem suas características culturais, mesmo fazendo parte do mesmo país ou idioma.
É evidente que São Paulo sempre foi líder no movimento da propaganda moderna, que dizer, após os anos 50. E foi São Paulo que montou toda uma infra-estrutura sólida e moderna de apoio à profissão; a contribuição de grandes profissionais vindos de outros estados assim, o Rio de Janeiro, a Bahia, Minas Gerais e Porto Alegre enriqueceram o quadro profissional de São Paulo.
O mesmo aconteceu nos EUA, que Nova York, com a sua famosa Madison Avenue, comandou sempre o processo da propaganda norte-americana; nos EUA foi o pessoal da Costa do Pacífico, São Francisco e Los Angeles que também acordou e deu uma profunda contribuição à propaganda estadunidense.
Hoje, inúmeros centros também participam da disputa pela liderança desta grande profissão, igualmente na Espanha há diferenças notáveis de mercado. Não é à toa que sempre as melhores agências estivessem em Barcelona e os melhores profissionais, mesmo com o poderio econômico que cada vez mais se concentra em Madrid, capital do reino. O mesmo acontece na Itália, onde Milão, há muito tempo, deixou Roma a ver navios em matéria de propaganda.
Assim, parece muito importante para uma grande metrópole ter a vanguarda da propaganda no país e, deve se lutar para que isto não seja deformado. Há tempos que os cariocas reclamam do sotaque da propaganda paulista; hoje isto não ocorre mais, e não é porque o paulista deixou de ter sotaque, é que ele se incorporou ao cenário nacional.
Para minha surpresa, quando olhei o novo anuário do Clube de Criação, me espantei com seu jeito de folclore mexicano. Parecem aquelas caixas que você compra nas feiras de Puebla e também inspirado na forte influência da propaganda axé impregnada na sua capa e no seu conteúdo, jogando fora toda uma reputação que a propaganda paulista tem há muitos anos e que é motivo de orgulho de todos os brasileiros, com fortes influências mitológica DDB e com um sabor fortemente europeu, mas o que mais se destaca é o jeitão descontraído brasileiro, e que virou marca registrada da nossa publicidade, respeitada e admirada em todos os grandes centros do mundo.
Talvez este anuário represente a forte influência caribenha sobre o publicitário brasileiro... Já, há poucos anos, isto aconteceu com a música, quando do fenômeno da lambada, mais tarde foi através do turismo no CAribe, atraindo milhares de paulistas, cariocas, gaúchos, mineiros e patrícios de todos os cantos do país.
Também o fenômeno aconteceu no setor imobiliário, quando muitos brasileiros trocaram seus luxuosos apartamentos de Ipanema e Guarujá e mudaram para o Caribe, pensando que aquilo era o paraíso, logo descobriram que lá também tem problemas de segurança...
Em contrapartida, os empresários hispânicos encontraram no Brasil uma boa ressonância para os seus negócios.
Só tem um problema: a propaganda paulista, e por sua vez brasileira, está sendo tratada como se fôssemos meros iniciantes junto aos anunciantes e vendendo conceitos ultrapassados e que podem causar um mal terrível à propaganda paulista.
É bom lembrar que os brasileiros circulam com intimidade pelos salões da propaganda do Primeiro Mundo, coisa que não ocorre com os caribenhos...
Acredito que nós todos gostamos de receber fortes influências culturais de outros cantos do mundo, o Caribe já nos deu muito como o mambo, a rumba, o guateque, a salsa, as margaritas, tequila, tortilhas com chile, frijoles e, principalmente, a Glória Stefan, o Perez Prado, Orozco, Diego Rivera, Agustin Lara, Maria Felix, Miguel Angel Asturias, Ernesto Cardenal, José Lezana Lima, Octavio Paz e muitos outros talentos desta maravilhosa América Hispânica.

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