São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Novo aperto na liquidez causa apreensão

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

O mercado financeiro está apreensivo quanto aos boatos de que o governo pretende adotar novo compulsório. Espera-se a reedição da carta-circular nº 2.511, que inclui recolhimento compulsório sobre títulos como as notas de exportação ("export notes") e as operações de "box" (financiamento tendo como lastro o mercado de ações).
As Bolsas de Valores foram as maiores vítimas dos boatos da reedição da carta-circular 2.511, cancelada no último dia 25 poucos minutos após a sua divulgação.
As Bolsas de Valores fecharam a semana com volumes de negócios pouco expressivos e com grande variação de preços.
Manoel Pires da Costa, presidente da Bolsa de Mercadorias & Futuros, diz que a ansiedade decorre da expectativa de que o novo compulsório trará novo aperto de liquidez (falta de dinheiro) no mercado financeiro.
O aumento das alíquotas e a incidência do compulsório sobre um conjunto de operações (depósito à vista, a prazo, crédito) já reduziram a capacidade dos bancos de repassarem os recursos para outras instituições e de ampliarem suas linhas de crédito.

Desindexação
O consultor Yuichi Tsukamoto, da BBT Perspectivas, diz que o Banco Central já retirou US$ 40 bilhões do mercado financeiro nos últimos três meses através dos recolhimentos compulsórios.
As liquidações extrajudiciais de algumas instituições financeiras após o Plano Real ocorreram, entre outras razões, pela revisão que os grandes bancos fizeram de limites de crédito. Além disso, a proximidade do final de ano, a preocupante situação de alguns bancos estaduais e o aperto provocado pelo compulsório retiraram dinheiro da economia.
Para o consultor, a dificuldade de algumas instituições é problema localizado e restrito a, no máximo, dez instituições financeiras com ativos inferiores a US$ 15 milhões, em um universo de mais de 200 bancos.
Outra preocupação do mercado financeiro –além da possibilidade do novo compulsório– é a desindexação total da economia. Clarice Pechman, diretora da Anecc (Associação Nacional de Empresas Credenciadas em Câmbio), diz que "desindexar bruscamente a economia, a partir da extinção dos índices oficiais (Ufir, TR e IPC-r) poderia conduzir a um processo de indexação informal bastante nocivo". Além disso, "os demais índices de inflação continuariam sendo divulgados e servindo de parâmetro para os agentes econômicos definirem seus preços".
Ela acredita que a desindexação será paulatina. A regulamentação da Taxa de Juros de Longo Prazo na semana passada foi passo importante nesse processo, oferecendo um indicador de custo do dinheiro que rompe com a lógica perversa da indexação de curto prazo. A própria Ufir veio percorrendo desde julho o caminho da desindexação, o que torna a sua extinção menos problemática que os outros indexadores oficiais neste momento. A desindexação estará concluída quando "os agentes econômicos reconhecerem a estabilização como algo definitivo", diz.

Leilões
Outro destaque no mercado financeiro foi a volta do leilão de LFTs e os leilões de NTNs e LTNs, realizados no último dia 30. Apesar da indefinição da política cambial e do destino da TR, a venda de NTNs indexadas ao câmbio e à TR refletem a necessidade do mercado de compor a carteira dos seus fundos e das reservas obrigatórias junto ao BC (Banco Central).
Quanto às LFTs, o último leilão realizado com esses títulos foi em 30 de junho. O BC os utilizou como instrumento para a transição entre a URV e o Real, dadas as dificuldades de se projetarem juros e inflação. Agora, as LFTs foram de novo colocadas com ágio, diante da grande procura pelo papel, por causa do momento de transição política.

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