São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Paulo Miklos faz som distante dos Titãs

DA REPORTAGEM LOCAL

Os Titãs se reproduziram por meiose. Resolveram dar uma parada, se dividiram e foram desenvolver projetos solos.
Os vocalistas Sérgio Britto e Branco Mello criaram o Kleiderman, o baixista Nando Reis está programado para entrar em estúdio no início do ano. O baterista Chales Gavin está fazendo curso de produtor em Londres.
Só os guitarristas Marcelo Fromer e Toni Bellotto estão de molho. Isso sem contar o ex, Arnaldo Antunes, que está mixando seu segundo disco em Los Angeles.
O vocalista Paulo Miklos também aproveitou para fazer um disco solo, que leva seu nome.
No disco, Miklos é o dono da bola. Defende, ataca, passa e chuta a gol. Ele compôs todas as 11 faixas, canta, toca violão, harmonium, órgão, violino, e é responsável pelos samplers, pela programação e pela mixagem. Além de ser o produtor. É um disco autoral.
O resultado não é o futebol-força dos Titãs. Miklos tentou fazer um disco com a sonoridade radicalmente diferente da dos Titãs. E conseguiu.
"Nos Titãs há uma discussão interna muito grande. Todo mundo tem que gostar do resultado", diz explicando a "fome de bola".
No disco, o peso característico dos Titãs não dá as caras. A maioria das músicas tem uma base acústica, mesmo que recheada por uma ou outra guitarra. "Não tenho a ilusão de ser mais pesado do que os Titãs", afirma irônico.
Miklos prefere cantar várias baladas e evita o vocal rascado, sua marca registrada nos Titãs –estilo em que reina absoluto no rock nacional.
O disco é bem mais ousado do que os últimos trabalhos dos Titãs –que acharam um modelo e lá repousam. As canções de Miklos são ritmicamentes mais ricas e com suingue.
Um exemplo é "Aos 500 Surfistas Ferroviários Mortos", com uma alegre levada afro-caribenha contrastando com a letra, quase um réquiem. Há até um stillpan –instrumento percursivo.
Nas letras, Miklos conseguiu um certo padrão temático. Ele privilegiou aspectos urbanos. Como, na música de trabalho, "A Mesma Praça", confessamente auto-biográfica, que serve de pretexto para cantar a São Paulo da sua infância.
Nas letras há um ceticismo crítico. Como em "A Paz é Inútil para Nós" e "De Quem são as Cidades". Mas o disco fecha para cima, com a dançante "Ninguém se Cansa de Ouvir o Som da Própria Voz".
Para quem acha que os Titãs podem acabar, Miklos dá um recado. "A banda é para sempre". Até abril, contudo, é um para cada lado. "Já disseram que estamos nos reproduzindo como gremlins", ri Miklos.

Disco: Paulo Miklos
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 18 (em média, o CD)

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