São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994 |
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Vítima fatal A ação do Exército no combate ao crime no Rio cobrou sua primeira vítima fatal. Ao que tudo indica, a pessoa que acabou morrendo tentou, à força de tiros, furar um bloqueio. Ainda assim, as dúvidas que cercam o caso têm de ser esclarecidas de forma cabal e o mais rapidamente possível. Para não comprometer a imagem das Forças Armadas, o comando das operações no Rio não pode permitir que paire nenhuma espécie de suspeita sobre a legalidade e a moderação das ações da tropa. E, no que tange ao quesito legalidade, o Exército não vem se saindo tão bem quanto no apoio que recebe da população. Houve diversos episódios de abuso de autoridade, desde a realização de buscas ilegais até o cerceamento da liberdade de informação, passando por inúmeros casos de detenções no mínimo discutíveis juridicamente. Surgiu até mesmo a gravíssima acusação de prática de tortura, que não foi até hoje devidamente esclarecida. É evidente que o Exército só teria a ganhar se permitisse que a imprensa atuasse de forma mais livre. Afinal, investigações acompanhadas de perto por órgãos de comunicação são muito mais críveis do que aquelas realizadas dentro de sabe-se lá quais gabinetes. Os desmandos até agora observados são graves e têm de ser apurados. Igualmente importante, medidas que visem a impedir a repetição das arbitrariedades devem ser tomadas. Não se pode, porém, cair no extremo oposto e, a partir das violações à Lei Maior até agora constatadas, pedir que as Forças Armadas abandonem a operação. É preciso reconhecer, as tropas têm conseguido agir com a necessária moderação. A primeira vítima fatal só surgiu depois de pouco mais de um mês de operações. Uma média bem melhor que a de diversas polícias que, de resto, também não costumam agir segundo os estritos ditames da Lei. Assim, parece oportuna a declaração do ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, de que as Forças Armadas devem ficar no Rio até março. Seria no mínimo injusto abandonar o futuro governador fluminense à própria sorte, com uma polícia desestruturada e uma criminalidade ensandecida. Próximo Texto: A farsa da anistia Índice |
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