São Paulo, quinta-feira, 8 de dezembro de 1994 |
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Cidade é para marinheiros de várias viagens
SILVIO CIOFFI
Só os oficiais se hospedam no hotel e o restante dos marinheiros permanece nos barcos pesqueiros. Os uniformes são variados e os oficiais parecem rir da vida com cinismo, enquanto devoram omeletes estranhas, arroz e frituras. Garçonetes de olhar distante e triste, mas sempre com sorriso nos lábios, servem as mesas usando colares de conta, longos "lava-lava" floridos e uma flor enfiada na orelha esquerda, símbolo da solteirice. Os marinheiros asiáticos são maioria e parecem manter as costas voltadas para as paredes enquanto lêem livrinhos misteriosos. Cada movimento no salão parece cena de um filme. A luz é fraca de manhã e o ambiente suavemente embalado pela brisa dos ventiladores do teto. A rua principal de Pago-Pago não tem semáforos e contorna a ilha de Tutuila, que ocupa 145 km2 dos 197 km2 ocupados pela Samoa Americana. E esse único caminho praticamente termina na máquina de Coca-Cola instalada na porta do hotel Rainmaker, a mais imponente cabana polinésia de Pago-Pago e da Samoa Americana. O tráfego de caminhões com contêineres na área do porto e os "aiga buses", pequenos ônibus familiares montados sobre chassis de caminhonetes japonesas, são os veículos mais comuns. O dinheiro em circulação é o dólar mais surrado do mundo e quase de desfaz na mãos grossas dos nativos. Muitos falam inglês, mas em aldeias como a de Leone só se escuta o idioma samoano. A língua –que não era escrita– se utiliza das cinco vogais e das consoantes f, g, l, m, n, p, r, s, t e v. O museu de Pago-Pago tem instalações pobres e, na entrada, uma boa gravura do porto de Pago-Pago em 1839. Pouco ou quase nada mudou desde então. Descoberta por um navegador holandês no século 18, as ilhas samoanas foram disputadas pela França e Inglaterra. Em 1900, o grande chefe Tuilefano de Malaelou assinou o documento que cedeu a ilha de Tuituila para os Estados Unidos. Ele também aparece em fotos do museu exibindo um bastão e um colar de ossos afiados. O acervo também mostra painéis com folhagens usadas na medicina nativa, pássaros toscamente empalhados, corais, insetos, ferramentas e armas esculpidas de madeira e osso. Instrumentos iguais foram "exportados" mil anos atrás para o Havaí e estão expostos no museu Bishop de Honolulu, este sim o mais completo museu sobre as culturas da Polinésia e uma prova viva de que samoanos colonizaram praticamente todas as ilhas dos mares do Sul. O epicentro das atenções do museu de Pago-Pago é uma grande canoa-catamarã samoana. Foi com embarcações gigantes desse tipo que os nativos velejaram 3.700 quilômetros desde Samoa até o Havaí, povoaram o Taiti, Tonga, Fiji e toda a Polinésia. (SC) Texto Anterior: Viagem a Pago-Pago é aventura caótica Próximo Texto: Eventos comemoram centenário Índice |
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