São Paulo, sábado, 10 de dezembro de 1994
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Artista acusa Bienal de usar seu projeto

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma especialista em arte eletrônica, Claudia Giannetti, 33, acusa a 22ª Bienal Internacional de São Paulo de ter usado um projeto seu para criar a sala especial de vídeo sem dar-lhe o devido crédito. A Folha teve acesso a um fax assinado por Nelson Aguilar, curador da Fundação Bienal, em 4 de junho de 1993, em que ele declara ser Giannetti "curadora de vídeo e arte eletrônica". No catálogo da Bienal não aparece o nome dela.
Quatro meses depois, em 29 de outubro, Aguilar escreve a Giannetti, radicada em Barcelona. Afirma que a "Presidência e Diretoria decidiram que a Bienal só teria projetos elaborados pelo curador da Fundação Bienal" –o próprio Aguilar. Dizia ainda que o projeto de vídeo seria incorporado à Bienal e propunha a Giannetti a função de assessora. Ela não aceitou.
Como curadora, Giannetti receberia US$ 10 mil por dois anos de trabalho. Como assessora, seus honorários seriam de US$ 3 mil pelo mesmo período.
"Não é o dinheiro que interessa. A Bienal paga um miséria para os padrões europeus. Fiquei chocada porque usaram minhas idéias e meus contatos, que consumiram um ano de trabalho", disse ela de Barcelona à Folha, por telefone.
Ela afirma ter escolhido os quatro artistas e os respectivos trabalhos da sala especial de vídeo. São os seguintes: o italiano Fabrizio Plessi e os norte-americanos Gary Hill, Judith Barry e Paul Garrin.
Dois dos trabalhos em vídeo estão na lista dos preferidos do público, segundo pesquisa Datafolha feita entre 28 de outubro e 1º de novembro: "Trabalho na Floresta", de Judith Barry, e "Roma 3", de Fabrizio Plessi.
Outros artistas europeus se recusaram a mandar trabalhos para a Bienal depois que souberam o que havia ocorrido, segundo a artista.
Giannetti conta que conheceu Aguilar em outubro de 1992 em Barcelona, onde ela faz doutorado em arte eletrônica. Foi quando Aguilar pediu para ela mandar idéias para uma mostra multimídia na Bienal, segundo Giannetti.
Em março de 1993, ela enviou o projeto completo da mostra, batizada de "TransForma". Teria dez artistas, dois dos quais brasileiros.
Um mês depois do rompimento, Giannetti recebeu uma carta de Aguilar contendo "ameaças e chantagem", como ela classifica.
"Você está há muito no exterior e se esqueceu de como as coisas funcionam no Brasil", escreveu Aguilar. "A tentação primeira é sair atirando contra as instituições. Com isso só se consegue a exclusão total e imediata das mesmas... Você pode processar a Bienal, fazer o que entende: é um dever de amizade lembrá-la que muitos já fizeram e, além de não conseguirem o que pleitearam, permaneceram alijados da cena artística brasileira".
Giannetti diz que ainda não decidiu se vai à Justiça contra a Bienal. Teme interromper seu trabalho na Europa, onde já foi curadora de uma dúzia de exposições, entre as quais uma retrospectiva de Nam June Paik em Barcelona e uma de arte contemporânea brasileira em Bonn. (Mario Cesar Carvalho)

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