São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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'Madama Butterfly' estréia com problemas

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ópera: Madama Butterfly, de Giacomo Puccini
Maestro: John Neschling, à frente da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coral Lírico Municipal
Elenco A: Michèle Crider (Butterfly), Mario Malagnini (Pinkerton), Silvia Tessuto (Suzuki) e Sandro Christopher (Sharpless), entre outros
Elenco B: Luiza de Moura (Butterfly), Juremir Vieira (Pinkerton), Vera Ritter (Suzuki) e Inácio de Nonno (Sharpless), entre outros
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/ nº, tel. 222-8698, região central)
Quando: hoje, dias 14 e 16, às 20h30, e 18, às 17h (elenco A); 11, às 17h, e 13, 15 e 17, às 20h30 (elenco B)
Quanto: de R$ 6,00 a R$ 15,00
Antes tarde do que nunca. Depois da vexatória "versão de concerto" de "Carmen", São Paulo tem a oportunidade, no último mês do ano, de assistir a uma ópera com cenário, figurinos –e problemas.
Problemas que começam pela comunicação. "Não vou reger sob protesto", diz o maestro John Neschling, indignado com manchetes produzidas pela imprensa paulista. "Sou um profissional, e quero reger porque fui contratado. Não quero ser usado por ninguém para atacar quem quer que seja".
O maestro, porém, é o primeiro a reconhecer as deficiências da montagem. "O problema é a burocracia incompetente, que já vem de vários governos. Não há desculpa financeira para se montar só uma ópera por ano. Afinal, quanto custa uma ópera? Um centímetro de túnel?"
O primeiro problema de "Madama Butterfly" foi a direção cênica. Contactado pela Secretaria Municipal de Cultura em agosto, José Possi Neto só teve a confirmação de que a montagem realmente aconteceria um mês e dez dias antes da estréia. Acabou desistindo.
"Não é possível conceber uma montagem em tão pouco tempo", diz Possi Neto. "Seria necessário pelo menos mais um mês e meio para pré-produção".
Cogitou-se o cancelamento da ópera, até que Jorge Takla assumiu a direção do espetáculo. "É difícil trabalhar em tão pouco tempo, mas fizemos o melhor", diz.
Na concepção do diretor, o palco é todo tomado pela casa da personagem-título. "São 40 portas de papel de arroz de três metros de altura", afirma.
Solucionado o problema do diretor, surgiu outro: o da intérprete de Butterfly. Originalmente foi chamada a norte-americana Barbara Daniels, que canta no Metropoliltan de Nova York.
Conhecida por suas atuações em óperas de Puccini como "La Fanciulla del West" e "La Bohème", Daniels não veio ao Brasil porque não recebeu seu contrato. Nova ameaça de cancelamento.
A solução veio através do maestro John Neschling, que conseguiu acertar a vinda da americana Michèle Crider, com quem estava trabalhando na ópera de Saint Gallen (Suíça). "Nunca vi tamanha bagunça", afirma Crider. "Só recebi meu contrato dois dias antes de chegar".
Os artistas brasileiros estavam ensaiando sem contrato. "Só assinei o meu na semana passada", diz o barítono Sandro Christopher.
O tenor italiano Mario Malagnini aponta ainda outro problema: a orquestra. "Os músicos não estão habituados a tocar Puccini", diz.
"Os problemas da orquestra não se resolvem apenas com melhores salários, mas também com melhores condições de trabalho", afirma Neschling. Com todos estes problemas, o maestro diz se esforçar para fazer o melhor, mas não promete milagres: "Milagre só acontece na 'Suor Angelica'. Mesmo assim, tem que ser muito bem feito para que a gente acredite".

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