São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Líder quer mudar partido para não perder bases

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva acha que o país tende a passar por um surto de desenvolvimento no futuro governo Fernando Henrique Cardoso.
Por isso, Lula entende que o PT passará por um período crítico e só se consolidará como alternativa de poder em 98 se trocar o discurso raivoso que antecede o costumeiro não pela polarização constante de suas propostas com os projetos do governo.
O candidato derrotado na última eleição presidencial, ao contrário do que dizia nos palanques durante a campanha, aposta que FHC fará um governo diferente do de Itamar Franco.
Lula acredita que FHC tem dois trunfos nas mãos: a reserva cambial que hoje é de cerca de US$ 40 bilhões e de US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões que serão arrecadados com a venda de estatais.
Nas conversas que vem mantendo com petistas nas últimas semanas, Lula insiste em que boa parte desse dinheiro será investido nas ditas "políticas sociais compensatórias".
Vai daí que o líder petista vislumbra a possibilidade de o governo tucano até cooptar parte dos movimentos que sempre deram fôlego ao PT, hoje o porta-voz e beneficiário de reivindicações salariais e de demanda social.
O objetivo, no cenário de 95 imaginado por Lula, é primeiro não perder bases, o que alguns outros petistas ilustres imaginam impossível se prevalecer no partido a visão da necessidade de rediscussão da postura de abraçar automaticamente reivindicações que a sociedade cada vez mais julga corporativistas.
Lula sabe que o papel do sindicalismo é um dos dilemas que enfrentará na reformulação que pretende comandar no PT. Não tem uma formulação acabada sobre o caminho a seguir, mas já percebeu que a confrontação pura e simples é inócua politicamente.
O diagnóstico de Lula é o mesmo para a atuação da bancada petista: nas conversas com deputados e nos recados mandados para a ortodoxia do partido, Lula avalia que todo projeto importante do governo terá que ser combatido por outro do partido.
Em suma, na visão de Lula grande parte do tempo que os parlamentares petistas dedicam hoje ao planejamento de obstrução, por exemplo, deve ser investido na elaboração de propostas e, no limite, na negociação com o novo governo.
Veto
Em janeiro, Lula começa a articular o nome de quem vai assumir a presidência do PT em agosto. A preferência é por Olívio Dutra, já que Aloizio Mercadante quer disputar a Prefeitura em 96.
Mas, para a renovação da cúpula, Lula tem um projeto polêmico: inaugurar, ainda que informalmente, o direito de veto aos nomes indicados pelas correntes internas para integrar a Executiva do PT.
Lula tem dito que quer de cada tendência os nomes mais expressivos e com inserção na sociedade, o que colidiria com a tradição do partido.
O líder do PT quer também maior participação da bancada nas instâncias de decisão do PT.

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