São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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Diálogo de estadistas em Miami

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – FHC (rindo) – Não quero criar caso com o Itamar, presidente, mas se o sr. precisar de alguma coisa...
Clinton – Well... fiquei satisfeito com sua eleição, não desejo incomodar, mas o Partido Democrata é amarrado em meio ambiente, florestas, índios... e sabemos que soltaram os assassinos daquele Chico Buarque...
FHC (rindo mais ainda) – Não foi o Chico Buarque, presidente, ninguém mexe num fio de cabelo dele, é meu amigo...
Clinton (embaraçado) – Sei, sei... gosto muito dele, "Tico-Tico No Fubá", Carmem Miranda... o Chico é outro (consulta um papel) deve ser o Chico Anysio...
FHC (rindo cada vez mais) – Mas presidente, sua assessoria pisou na bola! O Chico Anysio está na "Escolinha do Professor Raimundo". Casou com a Zélia...
Clinton (pasmo) – Casou? Mas me disseram que... não é um tal que escreve livros dos outros... psicografado?
FHC (generoso) – Não, presidente, esse Chico é o Xavier... um grande médium, psicografa até livros do Weber...
Clinton (aborrecido) – Acho que o pessoal da Casa Branca anda me sabotando... aqueles atentados e agora essa pauta maluca, mas vamos lá, eu peço ao sr., formalmente, em nome do Partido Democrata, em nome do generoso e bom povo norte-americano, em meu próprio nome e em nome de Hilary que o sr. fique vigilante...
FHC (que não ouviu bem) – O Chico Vigilante? Ele não tem nada a ver o isso, o negócio dele são os donativos do PT, ele luta pela pureza ideológica...
Clinton (pegando o bonde) – Yes, yes... pureza ecológica, espero que o sr. consiga prender os assassinos do... do (consulta um papel) do Chico Recarey...
FHC (com convicção) – Deixa por comigo, presidente! A Ruth Escobar deve ter sido amiga dele. E eu nem sabia que haviam matado o Chico Recarey! O Rio está uma barra, presidente, uma barra!

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