São Paulo, domingo, 11 de dezembro de 1994
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O paraíso dos biólogos

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

"Se o velho projeto socialista das esquerdas não dá mais frutos, é porque chegou a hora de se construir um novo –um projeto que viva não só do protesto, mas que seja animado pela utopia de uma ordem social mais justa."
A frase, de Oskar Lafontaine, é citada pelo professor Fernando Henrique Cardoso em artigo recentemente publicado pela Pennsylvania State University Press ("The Global Economy in the Information Age", 1993). No corpo do artigo, o atual presidente eleito usa o protesto ecológico como exemplo de manifestação contemporânea dos que reclamam sem propor soluções.
Vendo um vídeo muito bem feito pelo professor Ghilean T. Prance, biólogo inglês, sobre a floresta amazônica, fiquei fascinado pela sua abordagem objetiva no trato da questão ambiental. Ele sustenta que o grande desafio para a humanidade é saber combinar a conservação do meio ambiente com a sua boa utilização afirmando, categoricamente, que uma não pode ser realizada sem a outra.
Ligando os dois autores, resta-me apenas concordar com suas abordagens. Não basta protestar, é preciso arranjar soluções. Não adianta impedir o uso dos recursos naturais; é preciso encontrar formas de utilizá-los de modo racional.
No Brasil, há uma legião de reclamantes –atualmente engajados no movimento verde e, até recentemente, possuidores de carteirinha do partido vermelho– que se limitam a protestar e impedir a exploração dos recursos, sem nada propor no campo das soluções.
Temos bons exemplos de exploração adequada das riquezas da natureza. Para citar um caso bastante conhecido, basta lembrar que a exploração de bauxita em Trombetas foi muito bem organizada e preservou inteiramente o meio ambiente local, ao que muitos poderão contrapor, é verdade, o caso da hidrelétrica de Balbina que, infelizmente, destruiu a natureza e gerou pouca energia.
A biologia deu um grande passo ao descobrir as interações da natureza. Por isso não há mistério em explorar recursos e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. Na Amazônia, onde há mais de 30 mil espécies de plantas floríferas, os insetos são essenciais para a proliferação das plantas e vice-versa. Por sua vez, a manutenção da mata é essencial para o equilíbrio do regime de chuvas e para a alimentação das 2.000 espécies de peixes daquela enorme bacia.
Ora, conhecendo tudo isso, é fácil escolher projetos que se limitem a explorar os recursos preservando toda a riqueza do meio ambiente. Até o momento, foram devastados cerca de 9% da floresta amazônica. Trata-se de uma parcela pequena quando se leva em conta a imensidão da área. Mas grande parte da devastação –que, lamentavelmente, foi predatória– poderia ter sido perfeitamente adequada às necessidades das plantas, dos rios, das chuvas, dos insetos, dos peixes e de outros seres vivos.
Em suma, temos de ultrapassar a atual fase de mero protesto. O Brasil tem imensas riquezas que precisam ser exploradas. Cabe aos brasileiros estabelecerem os meios de exploração que permitam o progresso social e a preservação ambiental. Só o protesto não é suficiente para se resolver essa equação.

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