São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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FHC loteia seu ministério entre partidos

JOSIAS DE SOUZA; EUMANO SILVA; GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 17/12/94

O Ministério da Justiça no governo de Fernando Henrique será ocupado por Nelson Jobim e o da Integração Regional por Cícero Lucena, diferentemente do que foi publicado no quadro desta reportagem. Neste mesmo quadro, o futuro secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas, aparece como Eduardo José Caldas.
Ao contrário do que havia prometido, Fernando Henrique Cardoso promoveu ontem um autêntico loteamento partidário do ministério. Na fase final de composição de sua equipe de governo, o presidente eleito cedeu a pressões do PFL, do PMDB e do PTB.
Como resultado do rateio, o PFL ficou com três pastas: Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Minas e Energia e Previdência.
Apesar de só ter aderido a Fernando Henrique depois da eleição, o PMDB conseguiu arrancar do novo presidente dois ministérios: Transportes e Justiça. O partido controlará também a futura Secretaria de Integração Regional, vinculada diretamente à Presidência.
O PTB assegurou até agora apenas a pasta da Agricultura. Mas o partido espera obter hoje de Fernando Henrique outro ministério.
Os critérios utilizados por Fernando Henrique foram os mesmos que marcaram o governo Sarney e a última fase da administração Collor. Distribuíram-se as pastas restantes segundo os interesses partidários e regionais.
Insatisfação de ACM
A despeito de ter um afilhado político entre os contemplados, o ex-governador baiano e senador eleito Antônio Carlos Magalhães fez chegar a Fernando Henrique sua insatisfação.
ACM queria que Raimundo Brito, ex-secretário de seu governo, fosse indicado para a pasta dos Transportes. FHC alojou-o no Ministério das Minas e Energia.
Espécie de cacique do PFL, ACM assentiu, mas avisou: reagirá se tentarem transformar seu apadrinhado em fantoche.
"Eles que não venham com um prato feito", disse a correligionários próximos. "Temos que ter liberdade para compor os cargos". O ministério controla duas das mais importantes estatais, a Petrobrás e a Cia Vale do Rio Doce.
Distorções
Na tentativa de não desagradar ninguém, FHC acabou produzindo algumas distorções. Estava decidido a dar uma pasta ao PMDB do Rio Grande do Sul, do vitorioso governador Antônio Britto.
Logo emergiu o nome do deputado Odacir Klein, um peemedebista gaúcho que se julga entendido em agricultura. O problema é que FHC já havia prometido o Ministério da Agricultura para o presidente do PTB, Andrade Vieira.
Klein foi deslocado para o Transportes, antes cobiçado por ACM. Fernando Henrique inventou um critério para excluir Andrade Vieira, que considera controvertido. Disse que presidentes de partido não teriam cargos.
Mas Vieira não abriu mão de indicar o ministro. Pinçou João Elísio, diretor do seu Bamerindus, para a Agricultura. E, ontem à noite, ainda insistia para que fosse ele próprio o ministro.
O rateio político promoveu outros arranjos de última hora. Inicialmente, Fernando Henrique pretendia alojar o pefelista Gustavo Krause (PE) na Secretaria de Integração Regional. Krause disse que não gostaria. Ganhou o Ministério do Meio Ambiente, embora o tema não seja o seu forte.
Para regozijo do PFL, FHC aditou à pasta toda a estrutura de irrigação. Irrigação interessa especialmente ao Nordeste, onde estão fincadas as bases do partido de ACM.
Além de ACM, também o atual ministro da Fazenda, o tucano Ciro Gomes, mostrava-se aborrecido com os últimos movimentos de Fernando Henrique. Ele havia sugerido ao presidente que ignorasse a bancada do PMDB.
Ameaça a Paulo Renato
Sua tese é a de que, dividido entre quercistas, sarneyzistas e independentes gaúchos, o PMDB levaria os ministérios e, como nos governos Sarney e Collor, não garantiria os votos no Congresso.
O economista Paulo Renato de Souza foi quem mais sofreu com a dança dos ministérios. Cotado para o Planejamento, perdeu o posto para o senador eleito José Serra (PSDB-SP). Sempre lembrado para a Educação, quase foi parar no Itamaraty.
Fernando Henrique imaginava que poderia precisar incluir a Educação na composição política. Neste caso, transformaria Paulo Renato em chanceler. Só à noite o coordenador de sua equipe de transição foi confirmado na Educação.
(Josias de Souza, Eumano Silva e Gabriela Wolthers)

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