São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Serra e o jogo de poder

LUÍS NASSIF
SERRA E O JOGO DE PODER

A celeuma em torno da indicação do senador José Serra para o Ministério do Planejamento demonstra a vulnerabilidade da imprensa ao jogo de poder que permeia a política econômica.
O que está por trás das críticas à indicação de Serra é a sucessão de Fernando Henrique Cardoso, não a estabilidade da economia. As manifestações de Ciro Gomes à imprensa descerram de vez as cortinas desse jogo pouco escrupuloso.
A presença de Serra na equipe é importante por que lhe confere capacidade operacional. O Real está seguro por uma taxa irreal de câmbio. Há uma corrida contra o relógio, para produzir reformas que permitam consolidar o plano antes que a âncora cambial se esfarele.
Não há na equipe econômica atual experiência e capacidade operacional exigida pelo desafio, nem conhecimento abrangente para orientar as reformas. Não há demérito individual nisso. O que há é um grupo cuja soma de conhecimentos e experiências é insuficiente para a missão a que se propõe.
Nos 18 meses em que ficou à frente da economia, produziu-se uma concepção teórica –a troca da moeda– e nenhuma implementação efetiva. Na posse de Fernando Henrique Cardoso na Fazenda, criou-se o tal Plano de Ação Integrada (PAI), 21 pontos preparados pelo senador Serra sobre questões estruturais, e não se deu seguimento a nenhum deles.
A Receita caminhou separadamente porque ninguém na Fazenda conhecia seu funcionamento. Esbarrou-se várias vezes na montagem do orçamento, por falta de especialistas na área. Foi-se eficiente na política de preços apenas porque Clóvis Carvalho trouxe para a equipe José Milton Dallari, hoje assessor especial para preços do Ministério. Permitiu-se a maior transferência de renda das últimas décadas, por inabilidade na condução da política cambial.
Como dois e dois são quatro, se FHC iniciasse seu governo com essa estrutura operacional, liquidaria os seis primeiros meses de sua gestão sem nada conseguir –nem reformas, nem política econômica.
A indicação de Serra vale muito mais por sua capacidade operacional do que por mudanças de rumo na economia. Mas deve ficar claro: o que assusta os críticos da indicação é a possibilidade de Serra fortalecer-se politicamente se a política econômica for bem sucedida. Estabilidade econômica, desenvolvimentismo, reformas estruturais? São detalhes dessa briga inescrupulosa pelo poder.
Oportunismo
A saída do economista Winston Fritsch do governo para associar-se a um banco estrangeiro é mais um capítulo na extensa lista de atos condenáveis de pessoas que utilizam permanentemente o serviço público como trampolim profissional. O Congresso tem que estabelecer regras para impedir esse tipo de exploração do cargo público.
FHC
O discurso de Fernando Henrique Cardoso no Senado é a primeira demonstração clara (e encorajadora) dos compromissos do futuro presidente com a estabilização
Ciro
A cada dia se comprova o que essa coluna temia: Ciro Gomes é o personagem público com maior vocação de manipulação que conheci, desde Fernando Collor.

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