São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Edmundo quer deixar o Palmeiras

ARNALDO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A satisfação de se ver livre da suspensão de 40 dias e poder jogar as finais do Brasileiro não alterou os planos de Edmundo para o futuro: ele só quer ficar mais seis meses no Palmeiras.
Em entrevista exclusiva concedida à Folha terça-feira, na concentração do time em Atibaia, o polêmico jogador disse que pretende se transferir, em julho de 95, "para um grande clube do exterior e, depois, encerrar a carreira no Rio".
Para atingir estes objetivos, Edmundo promete mudar de comportamento. Quer aparecer nas manchetes dos jornais apenas pelos seus gols e atuações.
"Dificilmente um time importante, ainda mais na Europa, vai gastar dinheiro com um jogador polêmico", reconhece.
Casado com Adriana e prestes a ter seu primeiro filho, o atacante do Palmeiras garante que amadureceu.

Folha - Como você passou os últimos 15 dias, desde que foi anunciada a sua suspensão?
Edmundo - Fiquei chateado. Sem esperanças de voltar a jogar este ano e quase conformado em não disputar uma final de campeonato mais uma vez. Mas a diretoria do Palmeiras me deu uma força muito grande e eu me reanimei.
Folha - O que os dirigentes disseram para você?
Edmundo - Disseram para eu ter confiança, pois eles fariam de tudo para obter o efeito suspensivo da minha punição e me dar novamente condições de jogo. Pediram também para eu continuar treinando com o grupo e me manter em forma para qualquer eventualidade. Foi isso que fiz.
Folha - Como os demais jogadores receberam você?
Edmundo - Normalmente. Não tenho mais problemas com ninguém no Palmeiras. Tenho certeza que eles também não gostaram da minha suspensão.

Sem saber ainda do efeito suspensivo que lhe garante a participação nas finais do Brasileiro, contra o Corinthians, Edmundo já demonstrava, no começo da entrevista, confiança na sua escalação nas duas partidas decisivas.
Folha - Hoje, você acha justo ter recebido uma punição de cinco jogos mais 40 dias?
Edmundo - Sei que fiz uma bobagem e tinha que pagar por isso. Mas os cinco jogos de suspensão são mais que justos.
Os 40 dias referentes ao soco que dei no André (lateral do São Paulo) não se justificam porque não ficou caracterizada a lesão corporal grave prevista na lei. O André até continuou no jogo e participou das partidas seguintes do São Paulo.
Folha - Mas você tirou alguma lição deste episódio?
Edmundo - É claro. Tem um ditado meu que diz: 'contra a força, não existe resistência'. Quero dizer que os juízes dos tribunais parecem ter alguma coisa de pessoal contra mim, talvez pelo meu jeito de ser. Se eu der algum motivo para eles então, pior ainda.
O Palmeiras pode até ser prejudicado por minha causa. Não interessa para muita gente que nosso time seja bicampeão brasileiro, por exemplo. Pelo contrário. Gera ciúmes nos times que investiram dinheiro e agora estão assistindo às finais pela TV.
Folha - Qual sua opinião sobre o efeito suspensivo em geral?
Edmundo - Sou contra. Mas, no meu caso, acho justo. Outra coisa importante é que a torcida merece ver os grandes jogadores, suspensos ou não, nas decisões.

Edmundo demonstra mais uma vez que não gosta de falar sobre os incidentes que ocorreram na partida contra o São Paulo, dia 30 de outubro passado.
Só pára realmente para continuar a entrevista quando o repórter avisa que vai mudar de assunto. Então, o atacante senta tranquilamente ao lado de uma grande árvore na concentração do Palmeiras para esperar a próxima pergunta.
Folha - Você se considera um jogador fundamental para o Palmeiras? Acha que o time sentiu sua falta no período em que esteve suspenso?
Edmundo - Sei que sou útil. Mas temos um time que joga junto há dois anos e que conquistou diversas vitórias sem o Edmundo. Contra o Corinthians, acredito que ganharemos o título com ou sem a minha presença.
A única diferença é que, com minha presença, o Palmeiras atua de maneira mais ofensiva e se descobre um pouco lá atrás.
Folha - Quais são seus planos para o futuro?
Edmundo - 95 tem que ser o meu ano. Vou investir tudo nos primeiros seis meses aqui no Palmeiras.
Quero disputar um grande Campeonato Paulista, talvez a Libertadores, não me meter em confusões e me transferir em julho para um grande clube da Europa. Depois, vou encerrar minha carreira no Rio de Janeiro.
Folha - Por que este desejo de jogar no exterior?
Edmundo - Garanto a você que não é por dinheiro. É que eu já conquistei todos os títulos que um jogador pode ganhar no Brasil (campeonatos carioca, paulista e brasileiro).
Seria um desafio novo para mim. Já tenho algumas propostas, mas só de times médios. Isto não interessa. Quero ir para um Barcelona, Milan... Times deste nível.
Folha - E por que encerrar a carreira no futebol carioca?
Edmundo - O Rio é minha casa e, um dia, voltarei a jogar lá. Tem o maior estádio do mundo, o público é apaixonado por futebol e os clubes vão se recuperar.
Folha - Você acha que algum clube carioca tem dinheiro para te contratar hoje?
Edmundo - Recentemente, meu procurador (Pedrinho) recebeu uma proposta do Flamengo e ficou de passá-la para a diretoria do Palmeiras. Mas não acredito que a coisa vá evoluir.
Quanto a dinheiro, o Vasco eu tenho certeza que tem de sobra. Vendeu diversos jogadores caros, como eu, e ainda não reinvestiu.
Folha - E os demais times do Rio?
Edmundo - Devem procurar o apoio de empresas e tratar de recuperar os grandes jogadores que perderam para o futebol paulista. É o caso do Djalminha, Marcelinho, Júnior Baiano, Zinho, entre outros.

Terminada a entrevista, Edmundo se despede e vai descansar com os companheiros na piscina do hotel em que estão hospedados. Irreverente, pula de roupa e tudo na água –inclusive de tênis– e molha um repórter de TV que passava distraído pelo local.

LEIA MAIS
Sobre a final do Brasileiro nas págs. 2 a 6

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