São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 1994
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Rivaldo crava uma faca no Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Foi um espetáculo deslumbrante: todos aqueles fogos, a fumaça verde, o velho Pacaembu lotado, sugerindo que a fé corintiana era maior do que a palmeirense. Era como se uma rede tecida por correntes elétricas baixasse sobre o estádio, magnetizando torcidas e jogadores. Bola rolando, as expressões de cada um, dentro e fora do campo eram pura tensão. Por isso mesmo, a bola cumpria curtas e reticentes viagens, entre uma falta e outra.
O Palmeiras havia dado o grande golpe, na noite anterior, obtendo a liberação de Antônio Carlos e de Edmundo junto ao STJD. Assim, entrava em campo com sua força máxima, o que, no mínimo, significaria um golpe sobre o adversário.
E coube a Edmundo provocar o primeiro frisson do jogo: disparou pela direita, desvio para dentro da área, e, quando se esperava o cruzamento para Evair, chutou direto, à esquerda de Ronaldo, que se preparava para sair. A bola chocou-se com a trave.
Até então, o Corinthians exercia marcação severa sobre os principais articuladores das jogadas palmeirenses –Zinho e Rivaldo. E, até o final do primeiro tempo, tudo que podia arriscar eram tiros de longe, com Branco, Zé Elias e Souza.
Pois foi quando entramos naquela zona cinzenta dos dois, três últimos minutos do primeiro tempo, que um lançamento longo lá da defesa palestrina colheu Rivaldo em plena carreira, enquanto a defesa corintiana pedia impedimento. Realmente, Edmundo, aberto na direita, estava em impedimento, o típico impedimento passivo, pois nem a bola lhe foi lançada, nem ele se movimentou em sua direção. Resultado: Rivaldo driblou o goleiro e marcou. Com 1 a 0, o jogo estava definido.
Que nada, pois o Corinthians voltou para o segundo tempo a todo vapor. Mas a primeira grande chance é desperdiçada por Evair, lançado sozinho, chuta pra fora. Na recarga, o Corinthians enceta uma blitz irresistível: foram cinco escanteios em seguida, cada um deles provocado por defesas incríveis de Velloso. O empate parecia inevitável, quando, mais uma vez, o imponderável entra em campo. Branco tenta sair jogando de sua área, perde a bola para Rivaldo, que fatura. Três minutos depois, Roberto Carlos lança Evair, que mata no peito, dentro da área, e serve de bandeja para Edmundo fazer 3 a 0. Jogo liquidado.
Nem tanto, pois Marques, que havia entrado no lugar de Marcelinho Souza, dispara pela esquerda e reduz o placar para 3 a 1.
O Palmeiras relaxa, o Corinthians se empina. Viola sofre pênalti de Cléber, que o juiz não marca. E segue o jogo, num fio de navalha, apesar da grande diferença em favor dos palmeirenses.
Ah, mas quando Marcelinho, logo Marcelinho, o infalível Marcelinho, colheu uma sobra na área, sem goleiro, e chutou para fora, a tensão virou festa palmeirense.
Uma celebração ao melhor time do Brasil, ao mais equilibrado tática e emocionalmente, ao mais talentoso. Aquele que tem Edmundo, Zinho, Evair. Mas tem, sobretudo, Rivaldo, o ex-corintiano Rivaldo, aquela faca cravada nas costas do valente mosqueteiro.

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